Beijos lésbicos, mostrar o peito e fazer do corpo bandeja para bebidas (bodyshots) são promoções. Mamaki, Bico d'Obra, Mastru'bar ou ApitaDelas são nomes de barracas.
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No queimódromo do Porto abundam as alusões sexuais, a maior parte objetificando as mulheres. Não é um fenómeno novo, mas as redes sociais, com a divulgação de vídeos explícitos, dão maior expressão e visibilidade ao problema, sempre associado ao consumo excessivo de álcool.
"É triste", sintetiza Júlio Machado Vaz. Já Maria Carmo Carvalho, do Ponto Lilás, espaço de combate ao assédio no recinto, afirma que "as temáticas são degradantes da figura feminina". "O facto do sexo feminino aderir massivamente à reprodução destas dinâmicas só chama à atenção, em nosso entender, para a forma como elas estão enraizadas na sociedade", acrescenta.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2019/05/7mai2019_queima_das_fitas_noite_popular_sofiam_anas_20190508221455/hls/video.m3u8
Ao JN, a Federação Académica do Porto (FAP), responsável pelo evento, garantiu estar a combater o problema aplicando sanções aos que incentivem comportamentos "indevidos" e "indignos". O JN tentou ouvir o reitor da Universidade do Porto, sem êxito.
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Os responsáveis das barracas garantem que as promoções são mera estratégia económica e que ninguém é obrigado. Além da já "tradicional" oferta de bebidas a mulheres que mostrem os seios, agora as grandes tendências são os bodyshots e os beijos lésbicos.
Justificações
"As nossas promoções são para convidar o povo feminino a contribuir para a barraca. Indiretamente, atingimos o povo masculino porque estando cá raparigas, os rapazes vêm todos atrás", conta Gonçalo Bezerra, 22 anos, um dos responsáveis pela barraca "Dart'acão".
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2019/05/excessos_queima_8_maio_2019_20190508163027/hls/video.m3u8
Na "JaBardar", o mais famoso desafio é o "calippo": para uma bebida grátis, há que simular sexo oral durante um ou três segundos.
"É uma maneira diferente de dizer que podem ter uma experiência peculiar, não um calippo, mas com um instrumento próprio. Acima de tudo, garantimos que é higiénico", argumentam João Rodrigues e Paulo Correia, estudantes de 21 anos.
"Não podemos promover na Queima das Fitas discursos de ódio, de violência de género, nem promoções sexistas. Não é a nossa forma de atuar", afirma João Videira, presidente da FAP.
O regulamento "recomenda que se evite o uso de imagens/escrita sexista e/ou que promova o discurso de ódio, discriminação ou incentivo a qualquer tipo de violência". "As barraquinhas que incumpram o regulamento terão a devida sanção, que vai desde uma advertência até ao fecho total, com a queda do cheque caução", sublinha.
Apesar disso, João Videira afirma que os nomes das barracas não são explícitos.
"Por mais que eu celebre o espírito académico, isto perpetua o sexismo e o machismo que nunca devem ser celebrados numa sociedade que quer ser vista como avançada", critica uma ex-estudante de 25 anos, que preferiu o anonimato. Rute Carvalho, aluna de Psicologia, diz que "é ridículo, mas que cada um faz o que quer". " Não é falta de consciência das mulheres, é simplesmente o facto de quererem beber mais sem terem de pagar", sustenta.
Opções
Coimbra
Para combater o problema dos nomes sexistas das barracas, é dado aos estudantes um tema político para explorar e retratar as dificuldades no Ensino Superior.
Minho
O regulamento proíbe nomes ou promoções abusivas. "Há preocupação em criar consciência social em relação ao combate ao sexismo", diz Nuno Reis, líder da Associação Académica.