<p>Dois operários de uma das maiores empresas de explosivos do país morreram hoje, quarta-feira, quando procediam à queima de resíduos, em Simães, Fontarcada. A explosão ocorreu às 11.30 horas e foi sentida na vila da Póvoa de Lanhoso. Os corpos foram levantados às 15 horas.</p>
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Os operários procediam a um trabalho tido como vulgar em empresas do género. Afastado dos edifícios, em zona isolada, existe uma espécie de forja, onde são lançados para queima, os resíduos provenientes das pedreiras, como caixas onde são transportados os explosivos e material deteriorado. Terá sido algum fragmento que escapou durante o processo de separação a provocar a detonação.
O incidente ocorreu cerca das 11.30 horas, mas cerca das 15 horas os cadáveres dos dois operários ainda permaneciam no local, aguardando a conclusão das investigações das brigadas de explosivos, da PSP e da Polícia Judiciária.
"As brigadas estão a proceder à recolha de vestígios que contribuam para o esclarecimento do sucedido. Todas as hipóteses são possíveis. Os corpos serão levantados e transportados para a morgue, onde serão submetidos a autópsia", esclareceu o tenente Pereira Silva, da GNR da Póvoa de Lanhoso.
Nas imediações dos escritórios da empresa "Moura Silva e Filho", os técnicos do INEM prestavam apoio aos familiares das vítimas. Como o marido de Alice, tratorista de profissão, que abandonou o tractor na estrada nacional, seguindo até ao local, incrédulo com o que lhe contavam.
"Onde o meu homem veio morrer", lamentava Maria Vieira, esposa de Adelino. Depois de uma vida de emigrante na Suíça, decidiu regressar à terra natal e à casa que tinha construído com as poupanças do trabalho para além dos Alpes. Esforço inglório. "Há uns cinco meses veio de vez e começou a trabalhar aqui (na fábrica de explosivos) há três meses", dizia a amiga da família, Virgínia Amorim.
Empresa de ponta
Nesta fábrica de explosivos certificada trabalham cerca de 50 operários. Têm as obras públicas e as pedreiras como principais clientes, além de possuírem uma empresa em Moçambique. Fundada na década de 1950, tinha como actividade o fabrico de pirotecnica, mas a grande viragem deu-se em 1996, quando passou a estar inteiramente vocacionada para explosivos.
"Esta é uma empresa com todos os certificados. Os operários procediam à queima num local próprio, devidamente licenciado. Ali procede-se à queima de poeiras e outros resíduos que não podem, segundo a legislação, ser depositados nos eco-pontos", disse o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Pirotecnia e Explosivos (APIPE). Carlos Macedo esclareceu, sustentado na legislação que os explosivos ali fabricados enquadram-se na tipologia de ponta. Aqueles que, para serem transportados vinte quilogramas, necessitam acompanhamento policial.
Isidro Silva trabalha na empresa, na área eléctrica, lembra que houve ali uma explosão, há anos, mas que a empresa tinha adoptado tecnologia de ponta que permitia reaproveitar os resíduos que vêm das pedreiras.