Fábio Inácio caminhou oito mil quilómetros em cinco continentes por um "Mundo mais selvagem"
Mais de oito mil quilómetros percorridos em quase nove meses. Fábio Inácio, que completa, esta sexta-feira, 40 anos, terminou no Vale do Côa a caminhada solidária por cinco continentes, entregando um donativo de 8817 euros à Rewilding Portugal, uma organização ambientalista.
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Percorreu montanhas e vales, com chuva frio e calor extremo, passou fome, ficou doente, mas conseguiu passar por alguns dos mais desafiantes trilhos do planeta. “Foi muito duro, mas é muito gratificante acabar e ter os objetivos cumpridos. Passei por muitas dificuldades, calor, frio, muita chuva. Houve um dia em que pensei desistir, na Nova Zelândia, onde choveu muito e andei muitos dias com buracos nos pés porque estavam sempre molhados”, contou Fábio Inácio ao JN.
Caminhou por estradas, montanhas, florestas, sozinho, com tudo às costas, apenas com um objetivo: caminhar o Mundo para transformar a natureza em Portugal, contribuindo para um país mais selvagem. “Levei apenas duas mudas de roupa, uma para caminhar e outra para dormir, para evitar transportar peso. Levava comida para quatro ou cinco dias. Subir e descer montanhas de dois ou três mil metros, atravessar rios, caminhar com tempestades, com muito calor, muitos dias sozinho”, contou.
Se a preparação física é muito importante, a mental é fundamental. “Sem isso não se consegue. A gente diverte-se um pouco, mas no resto do tempo é esforço. O essencial é resistir para fazer os esforços necessários para caminhar 15 horas diárias, 50 quilómetros por dia, com lesões. A cabeça tanto vai para coisas boas, como para as más”, revelou ao JN.
Fábio Inácio, natural de Torres Vedras, definiu este propósito só porque é apaixonado pela natureza e grande admirador do trabalho da Rewilding Portugal, o que o levou a fazer a pé alguns dos trilhos mais desafiantes do planeta, passando por vários países, enfrentando altitudes extremas, florestas densas, intempéries e estradas intermináveis.
A ideia de caminhar o Mundo nasceu depois de Fábio ter concluído, em 2019, o Pacific Crest Trail (PCT), nos EUA, com 4300 quilómetros percorridos em 108 dias. “Agora decidi fazer um desafio maior tanto psicologicamente como fisicamente, com uma caminhada de 8600 quilómetros, apesar de só ter cumprido 8300. Fui para o Nepal, depois para a Nova Zelândia, Chile, Argentina, EUA, Marrocos e Portugal".
A jornada começou em outubro de 2024 no Nepal, onde Fábio enfrentou um revés imediato: “No primeiro dia, o único percurso que fiz foi até ao hospital. Fui diagnosticado com dengue e tive de ficar mais 10 dias em repouso”. Não desistiu e rumou ao campo-base do Evereste desde Catmandu a pé, superando altitudes extremas sem dias de climatização. Seguiu-se a Nova Zelândia, a via alpina das Richmond e mais tarde, nos EUA, completou o Appalachian Trail, passou pela Patagónia chilena, pelo Atlas marroquino e, por fim, regressou a Portugal, terminado no Grande Vale do Côa.
O último troço desta jornada épica foi percorrido no coração do Ermo das Águias, no Vale do Côa, acompanhado por amigos, familiares e pelo diretor-executivo da organização, Pedro Prata. “Terminei junto da Rewilding, pois no fim de fazer uma caminhada destas, verifico que temos cada vez menos natureza. Esta associação está a fazer um trabalho espetacular e quis angariar alguns fundos para os ajudar para a dar a conhecer a mais pessoas”, explicou Fábio Inácio, que ficou a conhecer a Rewilding Portugal em 2022, e se apaixonou pelo trabalho da associação ambientalista.
Durante a caminhada, Fábio criou uma campanha de crowdfunding, que estará ativa até 20 de julho, e reuniu mais de 300 contribuições de todo o Mundo.