Produtores de amêndoa usam réplicas de falcões contra pragas de pardais em vez de tiros.
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Há produtores de amêndoas que estão a combater com sucesso as pragas de pássaros, particularmente pardais, que atacam os amendoais, colocando no meio das árvores uma réplica de predadores que espanta os invasores, o falcão ecológico voador. Só na zona coberta pelo regadio de Alqueva, a área com amendoais já ultrapassou os 15 mil hectares (equivalente ao mesmo número de campos de futebol).
Trata-se de um sistema baseado num protótipo de um falcão ultraleve, suspenso no topo de uma vara, normalmente uma cana de pesca em fibra de carbono, com seis metros de altura, para planar e imitar o voo da ave de rapina. Mesmo sem vento, devido à altura acima das árvores, fica visível e capaz de assustar os pardais.
Poupança de 1400 para três euros
Este sistema substituiu os incomodativos e barulhentos, e em muitos casos ilegais, tiros de caçadeira, canhões de gás e rádios que emitem sons de aves de rapina e de socorro dos próprios pardais. Além da questão sonora está a financeira. Enquanto um canhão de gás custa cerca de 1400 euros e um rádio 300 euros, cada falcão de plástico custa três euros se for importado da China ou nove se vier da República Checa.
Este ano, o Núcleo de Proteção Ambiental de Beja da GNR apreendeu vários canhões de ar e botijas de gás e rádios "espanta-pássaros" por falta de licenciamento do Instituto Nacional de Conservação das Florestas, tendo emitido dezenas de autos de contraordenação cujas coimas podem ascender aos 45 mil euros.
O falcão ecológico voador está a ser implementado em algumas explorações do concelho de Beja e chegou através de um familiar de um produtor de amêndoas que viu o sistema em vários aeroportos de África e trouxe alguns que foram testados com sucesso.
População agradece silêncio
No limite urbano da Beja, Fernando Palma, proprietário de um amendoal com 5,5 hectares, já tem duas dezenas de "falcões voadores" sobre as amendoeiras. "É uma solução muito mais económica, menos stressante para as aves e mais confortável para as populações devido à ausência de barulho", disse ao JN.
Cinco quilómetros a sul de Beja, em Santa Clara de Louredo, o barulho dos canhões de gás, que simulam tiros, era ensurdecedor e não dava descanso à população. O presidente da Junta de Freguesia, Luís Gaspar, fez diversas queixas na GNR, Câmara de Beja e Comissão de Coordenação Regional, a protestar contra o barulho e a exigir o fim da situação. "Parecia que estávamos num campo de tiro", contou ao JN. "Com os falcões falsos parece que vivemos noutro lugar", disse satisfeito.