Muitas contas ficaram por pagar, assim como pensões por levantar e até houve faltas a consultas e juntas médicas.
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A mercearia de Rio Cabrão, em Arcos de Valdevez, voltou esta semana a ser "a central de correios" da aldeia, onde a população idosa vai buscar cartas, receber reformas e pensões e pagar faturas de luz, água e telefone. João Martins, proprietário do estabelecimento, assume "o serviço" de entrega de correspondência e de pagamentos para auxiliar os habitantes, nas sua maioria com idades entre 70 e 80 anos.
Neste verão, viu a clientela bater-lhe à porta, todos os dias, durante cerca de um mês, aflita com a ausência de cartas e de carteiro. Houve quem faltasse a consultas e juntas médicas e recebesse avisos por telefone de corte de serviços por falta de pagamento.
A situação, provocada pela falta de trabalhadores dos CTT no Centro de Distribuição de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, começou em julho e arrastou-se durante agosto. Nesta semana, ficou "completamente regularizada", afirma o merceeiro e fonte oficial da empresa. Contactado pelo "Jornal de Notícias", fonte dos CTT referiu que "a situação está completamente regularizada. As equipas estão a laborar em pleno, tendo sido reforçadas, por forma a dar a melhor resposta às necessidades".
Os CTT não responderam ao pedido para especificar dados sobre a equipa que está no terreno e número de novas contratações para suprir as necessidades.
Quase na última
"As cartas dos "abonos" dos velhotes estiveram quase um mês sem vir. Vieram quase na última. Pegámos no telefone e ligámos para os Correios daqui, mas não atendiam. Fomos até Lisboa. Não saímos de casa, mas fomos até Lisboa", conta João Martins, referindo: "O problema grave começou a meio de julho. Estivemos três semanas que não apareceu aqui ninguém (dos CTT) e sabe que as pessoas mais velhas estão sempre à procura dos vales. Muitos sou eu que os pago. Agora, o correio tem vindo todos os dias à tarde".
Na única mercearia de Rio Cabrão, por vezes é Cátia Martins, filha do merceeiro, que está ao balcão. Aconteceu anteontem, quando o reformado Gaspar Gomes se apresentou para receber a reforma, que chegou a tempo e horas. "As pessoas precisam do dinheiro para o dia a dia e no mês passado muitas reformas só chegaram no fim do mês. Foi mesmo caótico", afirmou a jovem, comentando que, entre convocatórias para consultas e juntas médicas, e faturas de serviços, "houve cartas que nunca apareceram".
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Ausências não previstas
No final de julho, os CTT confirmaram "constrangimentos" na distribuição em Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, justificando com "ausências não previstas de quatro colaboradores, que não foi possível substituir devido a dificuldades de recrutamento".
Greve
Após queixas da população, o Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios iniciou a 23 de agosto uma greve às duas primeiras horas de cada turno e ao trabalho extraordinário para reivindicar novas contratações. Depois, os CTT contrataram cinco carteiros para Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, sendo desconvocada nova paralisação entre 7 e 20 deste mês.