Falta de professores para alunos autistas em Almada leva docentes a apresentar escusa de responsabilidades
Os 12 professores de Educação Especial do Agrupamento de Escolas do Monte da Caparica, em Almada, apresentaram um pedido de escusa de responsabilidades à direção do agrupamento.
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“É um grito de alerta para o Governo contratar mais professores”, diz Rui Foles, professor de educação especial neste agrupamento, que transmite uma mensagem para os pais dos alunos autistas, admitindo que “nenhum aluno vai deixar de ser apoiado e cuidado com esta medida tomada pelo corpo docente”.
Atualmente, no 1.º ciclo do agrupamento, existem 11 alunos autistas no centro de aprendizagem da escola e muitas vezes são apenas acompanhados por um professor ou um assistente operacional, quando a legislação aponta para seis alunos por sala com dois professores e dois assistentes operacionais. “O excesso de alunos numa sala leva a um agudizar dos problemas de comportamento. Temos professores com dentes partidos, em burnout, com atestado de longa duração, cansados, que choram nas reuniões porque estão completamente exaustos com o trabalho”, afirma o professor.
Agressões entre crianças autistas durante episódios de desregulação comportamental são frequentes, bem como com professores e auxiliares. “Há mordidelas, unhas cravadas até sangrar entre os alunos e não temos meios humanos para poder acudir”. O INEM é frequentemente chamado à escola para assistência aos alunos em desregulação de comportamento.
“A indicação que existe, perante um aluno que se torna violento por desregulação do comportamento é chamar o INEM, trata-se de uma emergência médica e uma necessidade de adaptação de medicação por profissionais médicos”.
No primeiro ciclo, o problema é maior do que no segundo ciclo. “As crianças em idade de 1.º ciclo estão numa fase de adaptação da medicação, que não acontece com alunos mais velhos e, por isso, assistimos muitas vezes a episódios de desregulação do comportamento com sérias consequências”, diz o docente de 49 anos.
A direção do agrupamento está a acompanhar a situação. De acordo com o Ministério da Educação, “a direção já reuniu com os docentes de modo a, conjuntamente, encontrar as soluções mais adequadas que possam reforçar as respostas a dar aos alunos. Está também em articulação com o município de Almada para que, pese embora o rácio estivesse a ser cumprido, possa substituir as assistentes operacionais ausentes por doença”. Uma das funcionárias, aponta o docente, está em casa de baixa porque um dos alunos partiu os seus óculos e ela não consegue sequer sair de casa sem estes.
Rui Foles aponta para urgência na contratação de mais professores e diz que a direção está do lado deles, fazendo o que pode, que é alertar instâncias superiores para a resolução dos problemas. “A solução que a direção pode tomar diretamente é a atribuição de horas extraordinárias aos professores, mas isso é colocar um penso numa ferida com hemorragia abundante. A escola precisa de mais salas e mais professores”, conclui.