A família de um ex-combatente na Guerra Colonial, cuja urna foi translada há 42 anos de África sem os seus restos mortais, afinal não vão processar o Estado. "Não estamos a pensar fazer nada", garantiu ontem ao JN um familiar afastado do militar.
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Segundo Bruno Ferreira, sobrinho da viúva do ex-combatente, "a família apenas quis dar a conhecer este caso", assegurando que até ao momento "nada se pensou" relativamente a este caso. "Para quê? Nós somos pessoas pobres e não queremos nada de ninguém", disse Bruno, explicando que em Portugal residem apenas sobrinhos afastados de Tertuliano Rodrigues, que morreu aos 22 anos sem deixar descendentes.
Trasladada para Portugal, a urna ficou depositada no cemitério de Bufarda, freguesia de Atouguia da Baleia, em Peniche. Com a morte da viúva do ex-combatente e porque terá sido o seu último desejo ficar sepultada junto ao marido, a urna foi aberta para que as ossadas fossem trasladadas.
A descoberta de que a urna não tinha ossadas foi feita pelo coveiro e comunicada depois ao presidente da Junta de Freguesia, que gere o cemitério. António Salvador garantiu que a urna em chumbo foi aberta pelo respectivo coveiro e estava intacta, obrigando o funcionário a um trabalho reforçado para conseguir abri-la.
O autarca confirmou ontem ao JN ter encaminhada a situação para a GNR de Atouguia da Baleia, que posteriormente comunicou o caso ao Ministério Público de Peniche. "A sepultura está tapada. Foi tudo deixado como estava enquanto o Tribunal não decidir o que fazer", assegurou António Salvador.
Fonte da Liga dos Bombeiros de Caldas da Rainha disse ontem não ter sido contactada por familiares do militar nem por qualquer outra entidade. "O que sabemos é pela comunicação social", assegurou.
Tertuliano Fernandes Henriques é um dos 11 combatentes de Atouguia que morreram na Guerra do Ultramar e um dos nomes que consta do memorial de homenagem da freguesia, inaugurado há um ano. O corpo do ex-combatente foi trasladado directamente de Angola para o cemitério da Bufarda em Junho de 1967.