A angolana Luzia e a brasileira Aline, imigrantes em Portugal e na Bélgica, e os portugueses Míriam e Paulo, emigrados em Inglaterra e no Luxemburgo, contaram com o apoio dos familiares para se integrarem nos países para onde partiram em busca de uma vida melhor, ou à aventura.
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Virgílio do Nascimento Antunes, bispo de Coimbra, manifestou preocupação, esta terça-feira de manhã, precisamente com as “negras sombras” que pairam sobre os migrantes, saídos dos seus países para “fugir da pobreza ou da guerra, à busca de novas oportunidades de vida que não encontram nas suas origens”, e são sujeitos a diversas adversidades.
O bispo de Coimbra acusou os intermediários “sem escrúpulos” de abandonarem as pessoas que procuram uma vida melhor “à beira do caminho” ou de os entregarem “à sua sorte nas vagas do mar, prelúdio de morte ou de embate contra a dura realidade que os espera na praia”. Sublinhou ainda que os conseguem chegar ao seu destino, continuam a ter de enfrentar dificuldades.
A viver em Portugal há sete meses, Luzia Calado, de 58 anos, imigrou para Portugal por estar com um problema no joelho, e a assistência médica ser “deficiente” em Angola. “Tinha amigos e pessoas de família aqui em Portugal" e foi "muito bem acolhida”, diz, com um sorriso nos lábios.
Sem trabalho
A residir no Seixal, Luzia Calado ainda não conseguiu, contudo, arranjar emprego, pois as propostas são para fazer limpezas, e como é um “trabalho mais pesado”, não quer agravar o problema no joelho, que está a ser tratado com recurso à fisioterapia. “Já fiz currículos, mas não tem sido fácil. Ainda não fui contactada".
“É importante que haja empatia com as pessoas que vêm à procura de melhores condições de vida, ou por motivos de doença”, defende a imigrante angolana, que concorda com as palavras proferidas durante a homilia pelo bispo de Coimbra. “É importante que os imigrantes se sintam incluídos.”
De visita, pela segunda vez, ao Santuário de Fátima, com um grupo de amigas, vestidas com panos tradicionais de Angola, Luzia Calado diz que sente “uma coisa diferente” quando está em Fátima. “Se pudesse ficar aqui a vida inteira, ficaria”, diz a peregrina, que acredita em milagres.
Aline, de 32 anos, imigrou para Portugal em 2018, onde trabalhou seis meses, mas o agravamento do estado de saúde do sogro obrigou a família a regressar a Goiás, no nordeste do Brasil. “Vim para Portugal para fugir da violência e da insegurança, e para dar uma vida melhor aos meus filhos”, justifica.
De visita a Fátima, com a mãe Simone, 48 anos, e com a filha Janaine, 15 anos, Aline garante que adorou Leiria, onde está a passar uns dias em casa de uma prima, mas optou por ir viver, em 2022, na Bélgica. “O meu esposo teve uma proposta de trabalho melhor lá, na área da construção civil”, explica a esteticista por conta própria.
Mais próxima do céu
“Fátima é um sonho. Aqui, sinto-me mais próxima do céu”, afirma Aline, que está a tentar convencer a mãe a imigrar. Pela primeira vez em Portugal, Simone sorri. E confirma que, apesar de ter chegado apenas ontem ao país, está a gostar muito. A filha tem dois meses para a fazer mudar de ideias.
Emigrante no Luxemburgo há 35 anos, Paulo Peixoto partiu aos 18 anos de Amares, em Braga, à aventura. “Na altura, emigrei por curiosidade, e porque queria conhecer outros ambientes”, explica. A integração foi facilitada pelos primos e pelo que viria a ser seu cunhado, já que foi lá que encontrou uma portuguesa, com quem viria a casar e a ter filhos.
Aos 52 anos, Paulo Peixoto conta que, tal como outros emigrantes, também trabalhou nas obras. Maestro e cantor, já se reformou, pelo que se dedica a fazer voluntariado em duas associações religiosas, que dão apoio social e promovem eventos culturais para portugueses no Luxembrugo, e dirige vários coros. Identificou-se, por isso, com a homilia do bispo de Coimbra.
Contratos semanais
“As pessoas são discriminadas na Europa. Algumas portas são-lhes fechadas, porque não têm a formação necessária”, assegura Paulo Peixoto. “Não são bem acolhidas, porque não são da União Europeia, e os contratos são sempre precários”, acrescenta. “Vão muitos africanos trabalhar para as obras no Luxemburgo, e andam ali ao empurrão, com contratos semanais.”
No entanto, Paulo Peixoto garante que há instituições que lhes “dão uma mãozinha, para que possam viver com o mínimo de dignidade no país”. Além dos problemas de integração, diz que há muita dificuldade em arranjar casa, e que os preços são muito elevados. “Embora seja o país da Europa com o salário mínimo mais alto, tem as habitações mais caras do mercado.”
Em Fátima, a convite da Obra Católica Portuguesa das Migrações, Paulo Peixoto revela que, todos os anos, faz uma hora de vigília, de 12 para 13 de agosto, dirigida às comunidades portuguesas fora do país. “Hoje, foi das 4 às 5 horas”, refere. “Fizemos uma hora de oração na Basílica, acompanhados por padres que exercem o sacerdócio fora”, conta, enquanto segura a bandeira do Luxemburgo, com orgulho.
Leis mais restritivas
Míriam Menezes, 37 anos, mudou-se de Sintra para Londres, em Inglaterra, há nove anos, à procura de uma vida melhor. “As minhas irmãs mais velhas já viviam lá”, explica a professora numa escola para crianças com deficiência, que não queria trabalhar por turnos, como a mãe.
Casada e com uma filha de 3 anos, e outra com 1 ano, Míriam Menezes diz que cada vez está mais difícil emigrar e ter boas condições, devido à criação de leis mais restritivas. “Mas há sempre emigrantes em todo o lado. Hoje, somos nós, amanhã são outros”, afirma. A presença, esta terça-feira, no Santuário de Fátima, que visita sempre que pode no verão, foi para “agradecer”.