Joana e Yassine partilham com comunidade como é viver ao sabor dos ciclos da Natureza.
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Para chegar ao Soajo, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o carro obriga-se a seguir em primeira por um caminho a pique quase de encontro ao céu. Cumprimentam-se vacas e cavalos que surgem da paisagem verdejante sem pedir licença. No meio das árvores, dos muros rasos ao chão em pedra e de três, quatro casas a piscar o olho, avista-se uma espécie de bungalow, onde vivem a Joana, de 37 anos, o Yassine, de 40 anos, e os dois filhos, Isaac, de 11, e Miriam, de sete. Há oito anos mudaram-se para o Soajo onde vivem uma vida "simples, consciente, presente, com maior harmonia". Joana estudou Microbiologia no Porto e Yassine Osteopatia em Londres. Atravessaram o oceano até à América do Sul para aprofundarem os conhecimentos de permacultura e enraizarem o conceito de ecoaldeia.
O ativismo ambiental já lhes corria nas veias quando a aproximação com povos indígenas lhes incitou um maior respeito pelo ciclo da Natureza.
"Depois da viagem pela América do Sul, vivemos em vários sítios como voluntários em quintas e vivemos em comunidade. Quando engravidámos do Isaac, decidimos ficar no Soajo. É um privilégio viver aqui", conta Yassine, ao passo que estende uma mão cheia de fisális, acabados de colher.
A filha, Miriam, estica a mão a uma flor para se alimentar das pétalas comestíveis. O galo japonês, Shifu, anuncia a própria presença, e dá espaço a Isaac que apanha os ovos frescos da manhã.
O dia-a-dia da família divide-se entre os verbos plantar, colher, compostar, tratar, alimentar. "Há coisas que são constantes, a situação de fecharmos ciclos, trabalhar na horta, tratar do composto, da casa de banho, das galinhas, tudo varia com as estações do ano, às vezes dedicamos mais a podar, a regar, plantar, colher. Temos a possibilidade de estarmos envolvidos nos ciclos da Natureza", explica Yassine.
Todas as primaveras e verões, a família recebe no seu espaço outras famílias ou grupos para frequentarem cursos de permacultura. São 11 dias em que essas pessoas acampam no Soajo e recolhem sabedoria sobre como viver de acordo com o ditado da Natureza.
"Cada vez mais pessoas aparecem a procurar uma alternativa ao modo de vida, ao modo consumista e capitalista da vida, ao mais convencional, procuram um regresso a uma vida no campo, a uma vida mais simples, é um movimento que está a crescer", completa Joana o discurso do marido.
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No tempo dos avós
Nos cursos, os formandos podem aprender sobre criar uma casa de banho seca, onde procedem à compostagem humana, sabem fazer aquecedores do tempo dos nossos avós apenas com latas e limam todo o preconceito de reutilizar todo o tipo de material.
"Dentro das nossas formações de permacultura organizamos retiros para a prática de ioga e de meditação", acrescenta Joana, enfatizando a "mudança que é necessário acontecer, não só a nível prático sobre a forma como comemos, cultivamos, vivemos a nossa vida, como construímos, é necessário uma transformação como estamos connosco próprios e como nos relacionamos, de uma forma mais autêntica, mais harmoniosa. Daí juntamos o ioga e a meditação".
Ensino doméstico é ir contra o que é imposto
Os dois filhos do casal, Isaac e Miriam, nasceram de parto natural em casa. Tudo na vida desta família é natural, respeitando as leis da Natureza.
Com os pais aprendem tudo sobre ser autossuficiente, inclusive no ensino. Aprendem em casa, em liberdade. "O beneficio [do ensino doméstico] é ter mais tempo livre para poderem ser crianças, aprender através da brincadeira e tentar que as aprendizagens sejam o que eles querem e não só o que é imposto", defende Yassine. As crianças aprendem ao seu ritmo e perante motivações. Joana dá um exemplo: "Se encontram uma lagarta, então vamos estudar sobre essa metamorfose, dentro do reino animal onde está a borboleta e conhecemos a família dos insetos".