Uma família composta por nove pessoas, seis das quais infetadas por covid-19, está a viver no mesmo apartamento, um T2, em Santa Maria da Feira, sem poder cumprir as regras de distanciamento, a dormir no chão e até em guarda-fatos.
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Entre os membros da família encontram-se dois bebés e uma criança. A situação de habitabilidade, que já não era fácil antes da pandemia, veio agora agravar-se.
Há muitos meses que o chão da sala é a cama improvisada de Sara Gomes, 29 anos, do marido e dos dois filhos, um de 19 meses e outro de 11 anos. Há cerca de dois anos, quando o casal e as crianças foram alvo de despejo, mudaram-se para casa dos pais de Sara, que também dão teto a outra filha, ao marido e à neta de 10 anos. Com tantas pessoas na habitação, torna-se impossível respeitar as regras de isolamento devido à infeção de covid-19.
O JN apurou junto de fonte da Câmara de Espinho que, nos últimos dois anos, Sara Gomes tem contactado a autarquia do concelho onde morava e que terá efetuado a sua candidatura a uma habitação social, à semelhança de outras famílias necessitadas. Mas, de acordo com os preceitos legais, terá que esperar pela sua vez. A lista é disponibilizada pela Autarquia para consultas dos interessados.
Tudo partilhado
Apesar de Sara estar infetada com covid-19, os filhos e o marido tiveram resultado negativo, pelo menos até ontem, apesar de partilharem a mesma "cama", zonas comuns e sem possibilidade de qualquer medida preventiva, como o distanciamento.
Os outros elementos da família - pais, uma irmã, cunhado e uma sobrinha de 10 meses - ocupam o restante espaço disponível do apartamento situado em Rio Meão, Santa Maria da Feira.
O cunhado de Sara Gomes dormiu, nos últimos dias, no guarda-fatos do quarto que ocupa com a mulher e o bebé. A tentativa de evitar a infeção revelou-se, no entanto, infrutífera. De nada valeu o sacrifício. Ontem, o teste confirmou que também ele tem covid-19.
Sara Gomes lembra que todos partilham os mesmos locais, inclusive as casas de banho e a cozinha, por falta de alternativa.
"Retirar quem não está infetado por algum tempo não vai resolver o problema de fundo, que é a falta de uma casa. Há dois anos que estou a tentar uma habitação social em Espinho, mas até ao momento não consegui nada", explicou.
A mulher está desempregada. No agregado, só o marido e o cunhado trabalham para garantir o sustento da família.
Detalhes
Rendas muito altas
"Passei a minha gravidez a dormir no chão e agora também os meus filhos não têm uma cama para dormir. Não posso pagar as rendas que pedem, porque não temos dinheiro suficiente e só uma habitação social me pode ajudar", garantiu Sara Gomes.
Ajuda de amigos
Só o marido e o cunhado de Sara estão empregados, pelo que o dinheiro não abunda para o sustento de nove pessoas. A família conta com as dádivas de alguns amigos.
Três sem covid-19
Dos nove elementos da família, apenas três não estão infetados com covid: o marido e os dois filhos de Sara Gomes.