Município afirma que custos do equipamento chegam quase aos 190 milhões, incluindo sentenças.
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O Estádio Municipal de Braga, construído para o Euro 2004, já custou 175 milhões de euros à Autarquia, o que daria, segundo contas do presidente da Câmara, Ricardo Rio, para construir um novo hospital. Mas há mais. Somando os cerca de 11 milhões de euros relativos a sentenças desfavoráveis ao Município que estão em pendência judicial, a fatura sobe para os 186 milhões de euros. Há, ainda, cerca de 2,6 milhões de euros, mais juros, que estão em jogo, num processo interposto pelo arquiteto Souto de Moura, revelou, esta segunda-feira, Ricardo Rio.
As contas detalhadas do custo final do Estádio Municipal foram apresentadas em reunião do Executivo, na sequência de um pedido feito pelo vereador da CDU Carlos Almeida, há oito meses.
"Foi um trabalho quase titânico dos nossos serviços, nomeadamente, da contabilidade. Havia processos dispersos pelos tribunais, por diversos serviços e registos de contabilidade incoerentes entre si, porque mudaram os sistemas contabilísticos ao longo deste período", afirmou o autarca, para justificar a demora na apresentação dos resultados.
Custos de construção
Os números mostram que só os custos de construção do estádio chegaram aos 137 milhões de euros, mais do dobro da estimativa inicial, que era de 65 milhões. Ao somar as sentenças judiciais relacionadas com trabalhos a mais, o custo direto do equipamento chega aos 152 milhões de euros, que é 2,4 vezes mais do que a primeira estimativa. Entre os processos estão 4,1 milhões de euros para o consórcio ASSOC - Soares da Costa, dos quais já foram liquidados 40% do valor. Acrescem os cerca de 11 milhões que estão à espera de execução das sentenças, a favor do mesmo consórcio.
"O PSD sufragou a construção do Estádio Municipal, mas dentro do modelo de um projeto que apontava para determinado custo. O custo foi derrapando e muitos destes agravamentos nem foram alvo de escrutínio do Executivo municipal. Ninguém pode imputar responsabilidades políticas à Oposição, pela maneira como a obra foi mal gerida", defende Ricardo Rio, para responder às críticas do vereador do PS Artur Feio, que acusou os sociais-democratas de, há mais de uma década, terem dado luz verde à empreitada.
"Houve seis ou sete aditamentos ao contrato que foram aprovados por maioria, na Assembleia Municipal, à exceção do Bloco de Esquerda", assegura o socialista.
Para o comunista Carlos Almeida, face à fatura apresentada, "tem de haver alguma responsabilidade que deve ser assumida no plano político". "Não se pode brincar com dinheiro público. Há uma clara e notória negligência na gestão de todo este processo. Como é que um orçamento inicial de 60 milhões de euros atinge, hoje, o seu triplo? Não podemos assobiar para o lado", defende o vereador.
1,5 milhões de euros é o valor que falta pagar ao consórcio ASSOC relativamente ao processo de 4,1 milhões de euros por trabalhos a mais no estádio. O Município já liquidou 40%, a pronto, à Soares da Costa, que fazia parte do consórcio.
110 mil euros é quanto o Município paga, por ano, pela manutenção do estádio. Diz respeito a despesas com eletricidade, mecânicos e construção civil. Além disso, já investiu meio milhão noutras intervenções.
20 milhões de euros é o valor que a Câmara de Braga ainda tem por liquidar em relação aos empréstimos bancários de 75 milhões, contraídos para financiar o Estádio Municipal. A perspetiva é que, até 2023, a dívida esteja paga.
Quinze fóruns
O presidente da Câmara lembrou que o valor da fatura final do estádio daria para erguer na cidade o equivalente a "15 fóruns" ou "30 mercados municipais". A verba ali gasta corresponde "a 10 vezes o investimento necessário para concluir a variante do Cávado e a intervenção do nó de Ínfias", cruciais para minimizar o trânsito na cidade.
Referendo
O Município deverá avançar com o referendo sobre a venda do estádio em fevereiro do próximo ano. Ao JN, Ricardo Rio chegou a admitir que acredita que o equipamento pode ser vendido como "obra de arte".