Clube de Viana do Castelo formou equipa "Blue Gym" com 16 seniores que há um ano entra no mar de prancha na mão. A surfista mais velha já é octogenária e a mais nova tem 64 anos. Todos dizem adorar "as sensações de liberdade, camaradagem e alegria". E também falam das emoções fortes, que acontecem quando fazem "uma boa onda".
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Júlia Camelo tem 80 anos e é a mais velha de um grupo de 16 surfistas seniores, que há um ano entram de prancha na mão no mar do Cabedelo, em Viana do Castelo. Os "jovens" começaram a praticar a modalidade, a medo, há um ano através do Surf Clube de Viana (SCV) e hoje esperam ansiosamente pelos dias em que vão vestir o fato e fazer-se às ondas nas águas geladas cheios de alegria.
Júlia, a quem os amigos tratam por "Juquinha" ou "Julinha", é a "queridinha" da equipa "Blue Gym", criada em maio do ano passado com 14 mulheres e dois homens, e cujo elemento mais novo tem 64 anos.
"Isto é uma lufada de juventude", comenta a octogenária, antiga funcionária da Segurança Social, que descobriu o bodyboard através de uma amiga. "Adorei sempre o mar. Gosto muito de nadar e quando me foi oferecida esta oportunidade, aproveitei. Estou encantada e espero estar cá muitos anos para surfar", conta, referindo que "foi das primeiras do grupo a apanhar ondas" há um ano. "Chamo a este desporto, voar sobre as ondas", destaca.
As aulas para o grupo decorrem "à terça-feira em terra e ao sábado no mar". As deste último são sempre as mais frequentadas.
Antes, as pessoas estavam muito reticentes, mas agora a maior parte vem quando são as aulas no mar, porque toda a gente se sente feliz e não há medo
Fátima Carvalho, monitora do SCV, recorda que no início "as pessoas estavam muito reticentes", mas agora "a maior parte vem quando são as aulas no mar, porque toda a gente se sente feliz e não há medo". "Estamos aqui de uma forma sistemática e continua, com frio ou calor, esteja a água gelada ou com peixes aranha", diz.
"O surf não tem idade", afirma Fabiola Sousa de 67 anos, a segunda mais nova do grupo, que o mar conquistou de forma inesperada. "Das primeiras vezes relutei. Depois vi as colegas muito mais velhas do que eu a fazer surf e a adorar, e entrei na água. Nunca mais parei. Esta energia do mar é muito boa e aporta muitos benefícios, quer físicos, quer emocionais", conta, comentando: " Quer chova, quer faça sol aqui estamos, a menos que faça trovoada, porque na verdade não se pode praticar".
Estou sempre à espera do sábado. Quando estou no mar não penso em nada
Paula Esteves de 66 anos, viúva, encontra no mar "terapia" para a depressão. No dia desta reportagem cumpriram-se 31 anos que perdeu o filho de 19 num acidente. "Estou sempre à espera do sábado. É o bocadinho que eu tenho para desanuviar o espírito. Quando estou no mar não penso em nada", confessa.
Finalmente, Alice Aleixo de 75 anos, mãe do presidente do SCV, João Zamith, brinca: "Mãe de surfista, sabe surfar". "Gosto muito desta sensação de liberdade, de camaradagem e de alegria. E de emoções fortes, que também acontecem quando fazemos uma boa onda", remata.