Cidades esperam milhões de visitantes e marcham para afastar desalento, após dois anos com ruas vazias e sem festejos em junho, devido à pandemia.
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De Braga a Lisboa, passando por Famalicão, Porto e Gaia, é comum o desejo de aproveitar os santos populares para dinamizar as cidades, envolvendo as comunidades nas atividades, chamando turistas e contribuindo para a economia.
Em Braga, os festejos de São João esperam este ano atrair cerca de 1,5 milhões de pessoas, à semelhança do que acontecia antes da covid-19. O número, avançado por Firmino Marques, presidente da Associação de Festas, dá uma noção do peso que o santo tem para a cidade. E do que Braga deixou de ganhar nos últimos dois anos.
Firmino Marques espera que a festa, que decorre de 15 a 24 de junho e inclui 270 horas de programação, seja, após a "tempestade" da pandemia, uma "bonança de recuperação para os agentes económicos, associação de festas e município, que aposta claramente na festa tradicional como uma imagem de marca de Braga e da região do Minho".
"Com cada São João há um encaixe financeiro de alguns milhões de euros", nas economias domésticas, auxiliando vendedores ambulantes, restauração e hotelaria. Por altura do santo, "a capacidade hoteleira esgotava" e, este ano, "o movimento da hotelaria é comparável a um ano normal antes da pandemia", adianta Firmino Marques.
Também no Porto, após dois anos de interregno, os festejos de São João voltam às ruas. A Câmara da Invicta, que vai custear o fogo de artifício sobre o Douro na noite de 23 para 24 de junho, diz que em breve haverá novidades. Do outro lado do rio, Vila Nova de Gaia anunciou que não haverá o tradicional concerto para evitar "concentração de pessoas". As marchas, contudo, regressam dia 18 e contam com "oito freguesias de Gaia", num investimento de 45 mil euros, refere a Autarquia.
Afirmar identidade
Em Famalicão, as festas Antoninas, que se realizam de 9 a 13 do próximo mês, voltarão a primar pela diversidade de atividades e pela vertente religiosa. Pedro Oliveira, vereador da Cultura da Câmara de Famalicão, adianta que "não há um estudo que permita quantificar a criação de riqueza" proporcionada pelas atividades em redor do santo, mas não tem dúvidas que os últimos dois anos foram "penalizadores" para os artistas, pessoas ligadas aos divertimentos, restauração, hotelaria, etc.
"Estamos motivados para voltar a fazer das festas um momento importante de afirmação da identidade da nossa terra e das nossas gentes", sublinha o autarca.
Em Lisboa, o programa já arrancou e são esperadas "centenas de milhares de pessoas" para celebrar Santo António, avança Joana Gomes Cardoso, presidente da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural. Nos últimos anos, diz a responsável, tem-se vindo a notar que "a festa desperta a atenção de turistas estrangeiros, mas, na verdade, continua a ser uma atividade muito da cidade, de quem cá vive".
O investimento de 1,1 milhões de euros para realizar os festejos trará um "retorno económico" à cidade, admite Joana Gomes Cardoso, sem conseguir quantificar. Mas, acima de tudo, permitirá esbater o "custo emocional" da não realização em 2020 e 2021. Sentiu-se um "desalento", pois "é algo que mexe com a comunidade".
Taxa de ocupação hoteleira ronda os 85%
A taxa de ocupação das unidades hoteleiras na zona do Porto está a aumentar e, no início de junho, as reservas rondam "os 80% a 85%, havendo uma tendência de crescimento que poderá chegar aos 90%", níveis similares aos anteriores da pandemia, realça Inês Sá Ribeiro, vice-presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo, sem conseguir concretizar quantas pessoas se deslocarão para festejar o São João nas margens de Porto e Gaia. Algumas, acrescenta, "poderão estar a aguardar a divulgação do programa no Porto para confirmarem as estadas". As festas populares "tradicionalmente chamam muita gente, não só da cidade, mas turistas nacionais" que enchem hotéis e outros espaços de alojamento local. "Sentimos que há grupos de nacionais que se dirigem à cidade de propósito" para festejar, finaliza.