O primeiro dia da Baixa lisboeta sem carros, devido às obras do plano de drenagem e expansão do metro, arrancou, esta quarta-feira, a conta gotas, e provocou sentimentos mistos. A União de Comerciantes recomendou a criação de uma comissão para acompanhar as alterações, que considerou prejudiciais para o comércio local, mas alguns lojistas mostraram-se agradados com as melhorias previstas.
Corpo do artigo
O cumprimento das restrições provocou grandes condicionamentos no trânsito sobretudo na zona ribeirinha, entre as avenidas Infante Santo e Mouzinho de Albuquerque. Ao início da manhã desta quarta-feira, no acesso à Rua do Ouro pelo Rossio, o trânsito circulou normalmente até perto das 11 horas, quando foi cortado pela Polícia Municipal a quem não fosse comerciante, morador, taxista ou conduzisse veículos de emergência.
Junto ao Largo de Camões, Gonçalo Gomes, guia turístico e condutor de tuk tuk, dizia ao JN que afinal aqueles veículos podiam circular nas ruas onde o trânsito é condicionado. "Recebemos essa informação na terça-feira. Andei vários dias a receber indicações em contrário, mas agora foi esclarecido, o que faz sentido pois é uma zona de bastante fluxo turístico".
Condutores de TVDE e tuk tuk incrédulos
O certo é que perto das 11.30 horas os veículos turísticos foram barrados pela Polícia Municipal. Muitos condutores estavam incrédulos com as informações contraditórias.
Carlos Lopes, 61 anos, motorista de TVDE, foi surpreendido pelo desvio de trânsito nos Restauradores. "Não sabia destes impedimentos, mas temos de aceitar", referiu, recusando, porém, fazer juízos de valor sobre o facto de táxis poderem circular, mas os TVDE não.
Entre os lojistas notou-se um sentimento misto. Se a União de Associações do Comércio e Serviços recomenda a criação de uma comissão para acompanhar as alterações à mobilidade, que considerou prejudiciais para o comércio local, alguns, individualmente, mostravam-se satisfeitos.
Na papelaria Fernandes, na Rua do Ouro, a gestora Paula Cordeiro considerou que a principal preocupação eram as cargas e descargas. "Fui informada de que não há problema algum com as descargas de material para a loja, o que me deu grande alívio", referiu, acrescentando que a Baixa "vai ganhar grande qualidade" para os turistas que andam a pé. Porque, diz, "o trânsito é caótico".
Cargas e descargas vão retirar o direito ao descanso aos moradores. Significa barulho, motores dos camiões, barris de cerveja a cair, vozes de comando e ordens. Não é uma atividade silenciosa
Também Alfredo Ricardo, da retrosaria Alexandre Bento, na Rua da Conceição, fala num ciclo que traz benefícios para os comerciantes. "Temos de aceitar que as obras são incomodativas, mas servem para melhorar a qualidade de vida das pessoas", disse.
Está previsto que as cargas e descargas ocorram durante a noite, o que preocupa o presidente da Junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, que teme mais constrangimentos ao tráfego com a chamada "5.ª circular", via alternativa proposta pela Câmara de Lisboa para desviar os carros da Baixa. "O trânsito naquelas vias, que já estão bastante saturadas nas horas de ponta, vai duplicar ou triplicar se", criticou ao JN.
O autarca lamentou "não ter havido nenhuma reunião com os moradores antes da implementação dos cortes ao trânsito" e mostrou-se preocupado com a realização de cargas e descargas durante a noite. "Essa medida vai retirar o direito ao descanso aos moradores. Significa barulho, motores dos camiões, barris de cerveja a cair, vozes de comando e ordens. Não é uma atividade silenciosa".