Nuno Araújo, presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), afirma que o fecho da refinaria de Matosinhos, anunciado pela Galp em dezembro, representa um impacto financeiro para o porto de 50% e quer perceber que serviços o porto poderá prestar no futuro.
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Perante a quebra de "mais de dois milhões de toneladas de produtos movimentados pela refinaria" através do porto em 2020, e na expectativa de que essa mesma quebra se venha a acentuar este ano, o presidente da APDL assume querer intensificar o diálogo com a Galp de forma a "aferir com mais precisão qual será o movimento de produto, para a administração portuária traçar as suas expectativas, as suas contas e prever o seu futuro".
O diálogo permitirá, por outro lado, aferir que tipo de outro tipo de serviço pode prestar o porto à infraestrutura da Galp em Matosinhos. "Trata-se de saber que serviços não fazemos hoje e podemos fazer de futuro, relacionados com o gás ou com o hidrogénio, por exemplo, de que forma podemos potenciar a infraestrutura", disse Nuno Araújo, citado pela Lusa.
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Recorde-se que a fábrica de combustíveis da Petrogal encerrará em março. As fábricas de aromáticos e óleos base trabalham até junho e em dezembro de 2021 encerram-se as utilidades. O fecho da unidade industrial, anunciado pela Galp em dezembro passado, tem vindo a ser discutido há vários meses em conjunto com o Governo. O JN sabe que as negociações para a reconversão da Petrogal numa refinaria de lítio têm contado com o aval do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e o secretário de Estado da Energia, João Galamba.
Aliás, João Galamba já tinha admitido que seria "expectável" que a unidade se localizasse no Norte do país pela proximidade ao porto de Leixões, que facilitaria a expedição do produto, e aos locais de extração, já que todas as minas ficarão na região.
A Galp nega qualquer projeto, admitindo que está a estudar a cadeia de valor das baterias de lítio.
Após o encerramento da fábrica de combustíveis em Leça da Palmeira, a Galp vai concentrar as atividades de refinação na unidade industrial de Sines. Em causa, e de acordo com os sindicatos, estão 500 postos de trabalho diretos e mil indiretos.
"Não se sabe exatamente o montante do produto que será transferido de Sines para Matosinhos. Por isso é que dizemos que haverá três a 3,5 milhões de toneladas de produto a ser transportado. Essa é a nossa expectativa para já, mas isso é objeto de um diálogo permanente com a Galp", nota.
Esse diálogo, que Nuno Araújo pretende intensificar, permitirá "aferir com mais precisão qual será o movimento de produto, para a administração portuária traçar as suas expectativas, as suas contas, para prever o seu futuro".
"Quebra significativa"
Para o presidente da APDL, o que se passa agora em Matosinhos é algo mais ou menos preanunciado, apenas precipitado pelas circunstâncias.
"Se confinámos, se houve uma estagnação quase geral da economia, naturalmente que deixou de haver consumo de combustíveis. A Galp e a refinaria [de Matosinhos] foram-se ajustando a essa redução do consumo. Se somarmos a isto a transição energética do país, a descarbonização, dá para ter uma vaga ideia do que está a acontecer. Hoje há mais veículos elétricos, mais veículos híbridos, os combustíveis diminuem", diz.
No fundo, conclui, "acho que a pandemia veio precipitar aquilo que há muito tempo era uma estratégia da Galp e que se traduz depois numa diminuição de movimentação de crude [petróleo em bruto], de produtos refinados, de um conjunto de produtos que são movimentados no terminal petrolífero de Leixões".
Por outro lado, em 2020, já houve uma suspensão da monobóia [sistema que permite aos petroleiros descarregar sem entrar no porto] e isso "já trouxe um impacto significativo para a APDL".
O gestor lembra que já havia um pipeline de troca de produtos entre as refinarias de Sines e a de Matosinhos, prevendo que "vai consolidar-se esse pipeline marítimo de transporte de produtos refinados e armazenados no parque logístico", até porque se trata de uma operação que diz ser relativamente simples.