Empresa de calçado de São João da Madeira já dava sinais de quebra da atividade e decidiu encerrar a produção devido à falta de encomendas.
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Mais de 60 trabalhadores vão ficar no desemprego com o anunciado fecho da fábrica de calçado Armando Silva, em São João da Madeira.
O Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio do Calçado considera que alguns dos 62 trabalhadores, com conhecimentos especializados no ramo, deverão ter nova oferta de trabalho facilitada.
A fábrica, que há 75 anos se dedica à produção de calçado masculino de gama alta, já vinha a dar sinais, nos últimos anos, de uma quebra substancial nos negócios.
Recentemente, anunciou a intenção de proceder ao respetivo encerramento, alegando precisamente a quebra de encomendas.
A coordenadora do Sindicato do Calçado, Fernanda Moreira, confirmou, ao JN, que a empresa "comunicou a intenção de encerramento e despedimento coletivo, que deverá acontecer até ao final do ano".
Diz que a decisão da Administração em terminar a laboração "foi difícil", mas justificada com "a necessidade de o fazer enquanto havia dinheiro para pagar as indemnizações". A Administração ainda não prestou esclarecimentos.
Indemnizações
Foram já enviadas as cartas com a informação sobre as datas do fim dos contratos e dos respetivos valores de indemnização.
"Há pessoas que trabalham há mais de 30 anos na empresa e que só daqui a 75 dias terão o vínculo contratual terminado", deu conta a sindicalista. "A empresa está a efetuar os despedimentos e respetivos valores indemnizatórios dentro do que está previsto na lei", garantiu Fernanda Moreira.
A dirigente sindical disse que os trabalhadores denotam "muita consideração pelo administrador", tendo prescindido da criação de uma comissão para acompanhamento dos despedimentos. Contudo, o Sindicato tem vindo a dar apoio a todos os que ali se dirigem com as suas dúvidas.
Fernanda Moreira adiantou que alguns trabalhadores já não irão precisar de procurar um novo posto devido à idade e que outros não terão muita dificuldade em conseguir outro emprego. "Estamos a falar de trabalhadores cuja mão de obra é muito especializada. Julgo que esses não vão enfrentar muitos problemas no futuro, mas tudo dependerá da evolução do mercado", antecipou.
Marcas conhecidas
Embora mostrando preocupação quanto ao futuro, os funcionários da Armando Silva têm optado maioritariamente por não se manifestarem publicamente sobre o atual momento da fábrica. A empresa foi fundada em 1946 por Armando Luís da Silva, arrancando com 12 trabalhadores e "um sistema de produção artesanal". Atualmente produz para as marcas Di Stilo, Yucca e Gino Bianchi.
"Preocupação com a falta de estabilidade nos negócios"
A pandemia tem vindo a prejudicar vários setores. O calçado não é exceção. Contudo, Fernanda Moreira, do Sindicato do Calçado, referiu que não tem assistido a "situações dramáticas" de outros tempos. "Temos tido alguns trabalhadores que ficam no desemprego por encerramentos pontuais de pequenas empresas, mas também há outras que vão abrindo". Afirmou que, no corrente ano, "esta é a primeira grande empresa de referência [Armando Silva]" a encerrar. "Não temos assistido a grandes fechos", anotou. Mas, os trabalhadores mostram-se "preocupados com a falta de estabilidade" dos negócios. "Há empresas que pedem aos trabalhadores para fazerem horas extraordinárias e que passadas poucas semanas mandam-nos para casa. Há urgência para a produção de encomendas e uma grande incerteza sobre quando chegarão as próximas", adiantou.