Nem três euros por filme conseguiram reanimar o Cine-Aves e encher de vida os 425 lugares da quase sexagenária sala. Sem público, o único cinema do concelho de Santo Tirso com programação regular encerrou.
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A máquina de projecção foi desligada em Dezembro, e dificilmente o Cine-Aves reabrirá com o mesmo fim. "Definitivamente, as pessoas optam muito pelos grandes centros comerciais", lastima a proprietária, Alexandra Ferreira, herdeira dos 30 anos que o pai investiu no cinema de Vila das Aves.
Joaquim da Costa Azevedo concordará. Explorou a sala entre Maio e Dezembro de 2008, mas teve sina igual à do antigo dono - "o meu pai perdeu ali muito dinheiro", recorda Alexandra. Empresário da Trofa, desde sempre dedicado ao cinema, Joaquim empenhou 30 mil euros na recuperação da máquina de projecção: "Hoje, vê-se uma sessão de cinema como manda a lei", orgulha-se o octogenário. Mas foi investimento sem retorno.
Estava a ser "um prejuízo que não podia aguentar". "Não fazia 100 euros num fim-de-semana", lamenta. Acolhia por sessão entre seis e duas dezenas de pessoas num espaço com 20 vezes mais cadeiras. Em oito meses, apenas a dupla Quim Roscas e Zeca Estacionâncio lotou a casa. Uma euforia que não chegou para superar as perdas acumuladas.
Uns esforçados três euros por sessão de cinema, abaixo dos preços de mercado, também não bastaram. Nem os espectáculos de revista importados do Teatro Sá da Bandeira. "Não chegava para as despesas, nem por sombra", avalia o ex-programador ."É a massificação dos shoppings", presume Filipe Carneiro, assíduo consumidor de filmes. "É pena. Mas, a partir do momento em que começam a abrir salas no Porto, não há muito a fazer. A oferta é maior", conclui.
E o empresário trofense, "homem de cinema" que, ao longo da vida, projectou películas de Norte a Sul do país, não teve como aplacar a fuga de cinéfilos das Aves, apesar de "conseguir ter novidades" e ter filmes em cartaz "quase em paralelo com as estreias", afirma. Sentencia o fim: "Acabou o dinheiro". Apaixonado pelo cinema desde os 9 anos de idade, Joaquim da Costa Azevedo não mais explorará uma sala. Daqui por diante, jura, acederá somente às solicitações autárquicas. Aguarda, aliás, uma manifestação de interesse da Câmara de Santo Tirso para passar filmes no Centro Cultural de Vila das Aves.
Entretanto, Alexandra Ferreira quer manter o número 302 da Rua 25 de Abril como "uma casa de espectáculos alternativos", destinada a "festivais de cinema, por exemplo. Mas sozinha, não sei se consigo…".