Por causa da covid-19, o maior evento da Região Centro não poderá realizar-se, mas o município de Viseu já garantiu que há um plano B.
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A pandemia assim o obriga. Entre 6 de agosto a 13 de setembro, Viseu vai ter de viver sem a Feira de S. Mateus, tal como já tinha anunciado a Câmara Municipal. No entanto, cancelamentos e adiamentos estão longe de ser uma novidade para um evento que já ultrapassou seis séculos.
De acordo com uma recolha histórica, solicitada pelo município ao historiador Luís Fernandes, no século XIX, a feira franca, como é também conhecida, foi cancelada ou adiada outras seis vezes por causa de surtos epidémicos. Na altura, há mais de 150 anos, foram implementados cordões sanitários e proibição de feiras e romarias.
Primeiro foram os surtos de cólera, em 1855 e em 1890, que obrigaram a cancelar a feira. Em 1899, o certame voltou a não acontecer, mas desta vez por causa do grave surto de peste bubónica (peste negra) no Porto, a primeira cidade europeia a ser afetada, tendo sido registados 320 casos e 132 mortes. Por causa de mais dois surtos de cólera, a história do certame regista mais dois reagendamentos: o primeiro, em 1856, por via do surto que afetou o distrito de Coimbra, adiou a feira de setembro para novembro; depois, em 1884, voltou a ser recalendarizado, para outubro.
Sobreviveu à pneumónica
Já a gripe pneumónica, no século passado, em 1918, passou ao lado da Feira de S. Mateus, mas só porque a segunda onda epidémica chegou à região, em finais de setembro, já o certame tinha terminado.
Feira proibida nem sempre significou negócios anulados, já que se instalaram na cidade os divertimentos habituais, como, por exemplo, os circos. Algumas das transações comerciais acabavam por ser feitas, chegando a deslocar-se para a cidade comerciantes de outras regiões.
Desta vez, haverá um plano B (ler texto ao lado) para contornar o que foi "uma "decisão difícil, mas inevitável, considerando a proibição decidida pelo Governo de cancelamento de todos os festivais e eventos análogos até 30 de setembro", afirmou o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques.
Fazer uma feira "amputada ou descaraterizada" não era uma opção para Jorge Sobrado, vereador da Cultura e gestor da Viseu Marca. "Respeitamos a sua identidade e a reputação que alcançámos. Optámos por uma estratégia "Ferrero Rocher": regressaremos na próxima época para voltar a surpreender e 2021 será a melhor edição de sempre", assegurou.
Há enguias, farturas e divertimentos
Sem feira mas com programação alternativa (ler texto ao lado), as enguias mudam-se para o Mercado 2 de maio, assim como produtores de vinho do Dão, queijos, enchidos , biscoitos, hortícolas, artesanato e street food. O recinto do certame vai acolher stands de farturas e outros operadores. O Bairro da Restauração vai abrir parcialmente, haverá divertimentos (com protocolos certificados pela DGS) e um palco com plateia limitada.
Cólera obrigou a adiar evento
Em 1884, a Câmara de Viseu anunciou que a Feira de S. Mateus ia realizar-se em outubro. Chegou estar agendada de 15 e 28 de setembro, mas foi cancelada por causa da cólera. Situação que entretanto melhorou.
Edital no jornal "Viriato" em 1855
Com um surto de cólera a atingir o Porto, Vila Real, Guarda e o norte do distrito de Viseu, foram canceladas as romarias de Nossa Senhora da Lapa, da Nossa Senhora dos Remédios, e a Feira de S. Mateus.
Reagendamento
Melim, Kevinho, Ana Moura, Mão Morta, Delfins e Jáfumega eram os nomes que, antes da pandemia, a Viseu Marca já tinha anunciado. Os concertos estão assegurados para a edição 2021.
Prejuízo
A Feira de S. Mateus contabiliza, desde 2016, mais de um milhão de visitantes. Regista, anualmente, um volume de negócios de cerca de 80 milhões de euros.
Expositores
Além dos concertos, o certame inclui praças de diversões, de restauração, de artesanato. Envolve quase três centenas de expositores, provenientes de várias regiões.