O voto secular que o povo de Santa Maria da Feira fez a S. Sebastião para que os livrasse da peste fez-se, este ano, com o regresso dos rostos sorridentes, dos abraços sentidos e apertos de mão prolongados, de beijos e até de lágrimas de emoção. Sem máscaras e sem a face visível da peste dos tempos modernos, cumpriu-se o voto ao Mártir.
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Esta sexta-feira, dia 20 de janeiro, é ferido municipal em Santa Maria da Feira. Choveu logo pela manhã, mas ninguém se importou verdadeiramente com isso. Mesmo com a chuva de momento, as 250 meninas fogaceiras, vestidas de branco e de fogaça na cabeça, voltaram a sair à rua com todo o esplendor e fé, o mais importante para quem via o desfile.
"Já viu que maravilha esta gente toda a assistir às Fogaceiras, como se nunca tivesse existido covid (...) Que alegria depois dos anos anteriores a vivermos com tanto medo e receio" afirmava, emocionado, António Sousa, um dos muitos devotos presentes.
A Praça da República, junto aos Paços do Concelho, estava repleta de gente que aguardava pacientemente a saída das Fogaceiras em mais um Cortejo Cívico, onde se incorporaram as diversas individualidades e entidades locais e da região.
"A minha filha participou quatro anos como fogaceira, mas depois interrompeu por causa da pandemia e, entretanto, já não veio mais. Mas é uma tradição bonita, de muitos anos, que é importante manter", afirmou Carlos Neves.
Com uma afluência notada de gente, logo pela manhã, também os comerciantes do tradicional pão doce se mostravam agradados com a oportunidade de negócio. "Está a correr muito bem, apesar da chuva nos ter assustado um pouco. É um evento muito importante", confirmou Paulo Costa, responsável pela "Chef Academy".
Apesar das fogaças estarem mais caras do que nos anos anteriores, isso não parece afastar a farta clientela. "Os ovos, por exemplo, aumentaram de um euro para dois euros e meio e isso reflete-se no produto final" justificou. "As nossas fogaças grandes, de quilo, custam 10 euros e as de meio quilo seis euros" afirma, Paulo Costa, destacando a novidade deste ano: uma fogaça de chouriço a dois euros.
À semelhança de outras inovações que impliquem adicionar outros ingredientes à receita tradicional, pode haver as habituais críticas, mas o pasteleiro não se atormenta. "Já se promove o casamento de dois produtos como o queijo com a fogaça ou os enchidos [prática já habitual]. Porque não aproveitar os sabores libertados pelo chouriço durante a cozedura e que combina muito bem?", questiona.
À tarde, pelas 15.30 horas, terá lugar a Procissão das Fogaceiras, que sairá da Igreja Matriz e percorre as ruas do centro histórico de Santa Maria da Feira.