Romaria de Ponte de Lima bateu recordes de afluência. Para o ano, pode regressar com a classificação de Património Cultural Imaterial.
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Conceição Gomes, 58 anos, vendedora de doçaria, levou, esta segunda-feira, pão tradicional e pão doce frescos para o último dia das Feiras Novas, em Ponte de Lima. São os restos que sobraram da festa, que este ano atingiu recordes de afluência e que, em 2024, já pode regressar com a classificação de Património Cultural Imaterial em Portugal.
Entre roscas, cavacas e outras doçarias, Conceição trouxe este ano pela primeira vez, o doce fálico de S. Gonçalo, típico das romarias de Amarante, que fez grande sucesso. "Temos que ter coisas para mostrar nas Feiras Novas e também para a gente se rir um bocado. Fazer um bocado de palhaçada", contou, às gargalhadas. "Muito nos rimos aqui com pessoas que nunca tinham visto um S. Gonçalo. Vinham fazer fotografias".
Esta segunda-feira, a tenda estava calma e Conceição já não tinha a "novidade" pendurada na lona que cobre a barraca, como nos dias anteriores. O último dia da festa dedicada a Nossa Senhora das Dores, que decorreu de 6 a 11 de setembro, foi dedicado aos atos religiosos. E, apesar de haver movimento, já não se viam multidões.
"Este ano veio muita gentinha. Muita gentinha. Mais do que noutros anos. E a chuva ainda estragou um bocadinho a sexta-feira e o sábado de manhã, mas as pessoas vieram na mesma. Gostam da festa", disse a vendedora, notando o aumento da afluência. "No ano passado, as pessoas ainda tinham medo da pandemia, mas este ano perderam o medo e andou tudo à larga [à vontade]. Era só gente por aqui fora. O fim do mundo de gente".
Junto ao Largo de Camões, epicentro da festa, uma mulher queixava-se hoje de falta de dinheiro nos multibancos. "Andava aí um francês aflito atrás de 'l'argent, l'argent' [dinheiro]", comentou.
O presidente da Associação Concelhia das Feiras Novas, Gonçalo Rodrigues, confirmou que, nesta edição, a festa de Ponte de Lima acolheu "um banho de multidão". "As expectativas eram altas e foram cumpridas", considerou o responsável, que, não arriscando números exatos, falou em "centenas de milhares de pessoas em Ponte de Lima, para assistir às várias atividades, todas elas muito concorridas".
"Ligeiras alterações" este ano
"Falamos sempre em 600 mil pessoas, mas este ano acredito que tenham sido mais, mas não temos meio de medir porque estamos num recinto aberto. Percebemos que na quarta-feira [primeiro dia de festa], houve um recorde absoluto de pessoas a visitar Ponte de Lima. Sábado foi um dia muito forte e há quem diga que foi o melhor sábado", disse, indicando que "tendencialmente as Feiras Novas estão a ter mais gente", o que gera situações que têm de ser resolvidas.
Por isso mesmo, já este ano foram introduzidas "ligeiras alterações" ao formato da festividade: um trajeto mais extenso para a arruada com concertinas, que coincide com o início da festa, uma parelha de bandas de música, em vez de uma só como até agora, um leilão de garranos (cavalos) e "um investimento considerável" na segurança e reforço de instalações sanitárias. Pela primeira vez, foi instalado também um posto de comando e utilizado um drone da PSP para monitorização dos espaços, para permitir uma "mais rápida e eficaz" intervenção das forças de segurança e socorro.
Festa pode regressar com estatuto de Património Cultural Imaterial
Para o ano, as Feiras Novas já poderão regressar com o estatuto de classificadas como Património Cultural Imaterial em Portugal. A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de inscrição da festa no Inventário Nacional daquele tipo de património, por proposta do município (2017). Em 10 de agosto deste ano, foi aberto um período de consulta pública por 30 dias.
"Acreditamos que há muito boas perspetivas de este património vir a ser classificado, o que seria muito importante e interessante para nós. Provavelmente até ao fim do ano teremos alguma novidade e se assim for, as próximas Feiras Novas já possam ser umas festas classificadas", concluiu.