Festas de Ponte de Lima regressam com seis dias de romaria. Cantador e tocador é o homenageado.
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Zé Cachadinha, carismático tocador e cantador ao desafio de Ponte de Lima, que correu mundo com as suas cantigas improvisadas ao som de concertina, dizia que um dia havia de morrer, mas o seu nome não morreria. A morte bateu-lhe à porta no dia 10 de junho de 2019, tinha então 66 anos, e o tempo está a dar-lhe razão. Este ano, será o grande homenageado da edição de regresso pós-pandemia das Feiras Novas de Ponte de Lima, que começam amanhã e terminam na segunda-feira. O tocador dá rosto ao cartaz da festa, da autoria do artista plástico Mário Rocha, é protagonista do livro "Uma vida ao desafio - homenagem a Zé Cachadinha", a apresentar na quinta-feira, e será também celebrado no espetáculo de cantares ao desafio "Os amigos do Cachadinha", que na sexta-feira à noite juntará 14 tocadores e cantadores de vários pontos do país. Família, amizades e uma legião de romeiros recordam, de resto, a alegria do homem de baixa estatura e voz rouca inconfundível, que atraía e juntava rodas de gente naquela romaria (e muitas outras) à volta das suas desgarradas galhofeiras.
"Era um homem alegre. Nunca ninguém estava triste à beira dele. Deixou muitas saudades", conta Alice Almeida, viúva de Zé Cachadinha, a quem este chamava "Almeidinha". Conheceram-se na feira de Paredes de Coura, de onde ela é natural e fugiu aos 16 anos para se casar. "Tinha outro namorado e a minha mãe e a minha avó queriam que casasse com ele, mas gostei mais do Zé. Foi ele que se meteu comigo. Era da música", recorda risonha, reconhecendo que não teve uma "vida fácil" por causa da arte do marido. "De vez em quando, tinha de lhe pôr travão. Ele andava sempre com os amigos e a cantar ao desafio. Não podia ser", lembra.
Tiveram sete filhos, perderam três, um deles de acidente com 16 anos. Restam quatro, Maria da Graça, José António, Simone (nome que o pai deu em homenagem à cantora Simone de Oliveira) e Vítor. E quatro netos.
Os mais queridos
Na sexta-feira, na homenagem que lhe será prestada na "romaria de noite e de dia", assim se intitulam as Feiras Novas, estarão presentes os seus "amigos mais queridos". António Cachadinha, sobrinho mais velho, que lidera o grupo, refere que o tio "levou Ponte de Lima aos quatro cantos do Mundo".
A cantadeira Carminha Amorim, filha do cantador Delfim dos Arcos, considera que o Zé Cachadinha "é uma referência". "Foi ele que me lançou. Levou-me para todo o lado. Para onde ia, cantava toda a noite, mesmo quando já tinha alguma idade. Falta-me a alegria dele", recorda. "Ouvi-o dizer, várias vezes, "hei de morrer, mas o meu nome será sempre lembrado". E é verdade. Arrepio-me quando digo isto", conclui.
Carismático
O homem que levava alegria por onde fosse
Diz quem o conheceu que Cachadinha era um homem alegre. Uma doença prolongada matou-o em 2019. João Dantas, da Taberna 72, diz que foi lá que cantou pela última vez nas Feiras Novas. "Foram todos embora e ele ficou até de manhã", recorda.
Programa
Dias 7, 8 e 9
A festa inicia-se na quarta-feira à noite com arruada de concertinas. Quinta às 18 horas é apresentado o livro dedicado a Zé Cachadinha e, na sexta-feira às 21 horas, realiza-se o espetáculo dos amigos.
Dia 10
O sábado é um dia forte nas Feiras Novas. Destacam-se o concurso pecuário de manhã e o cortejo etnográfico, às 16 horas, dedicado a todas as freguesias do concelho e ao mundo rural.
Dia 11
Domingo realiza-se o cortejo histórico, às 15.30 horas, dedicado a "D. Teresa e o Lugar de Ponte". Às 18 horas, há tourada na Expolima com os cavaleiros Filipe Gonçalves, Marcos Bastinhas e Soraia Costa.
Dia 12
O último dia das festas é dedicado às cerimónias religiosas em honra da padroeira Nossa Senhora das Dores. Às 10.30 horas, há missa com sermão e, às 16.30, sai a procissão.