Festival que fomenta "literacia para o cinema" em Viana regressa de 5 a 14 de maio
Um dia após o apagão que deixou o país desligado da tecnologia, que distrai dos lugares reais, e em que a rádio foi praticamente o único (e eficaz) meio de comunicação disponível, o "Encontros - Festival de Cinema de Viana" apresentou a programação para a 25.ª edição, que decorrerá de 5 a 14 de maio.
Corpo do artigo
Esta edição será focada, mais uma vez, na captação da comunidade escolar para o cinema, no grande ecrã e fora de portas.
Numa conferência de imprensa, esta terça-feira de manhã, Rui Ramos, diretor executivo da Ao Norte, associação que organiza do evento há um quarto de século, destacou o trabalho para fomentar a "literacia para o cinema", que tem sido desenvolvido junto dos mais novos.
"Ainda ontem se falava muito, das crianças estarem disponíveis para jogar à bola - e eu vi lá em casa-, e para jogar às cartas, porque não havia os ecrãs negros. E [é importante] esta possibilidade de levar os alunos ao sítio específico onde se deve ver cinema, que é a sala de cinema, o local sagrado onde se apagam as luzes e em comunhão assistimos a um espetáculo", declarou Rui Ramos, considerando que "os miúdos já não vão ao cinema com a regularidade que todos gostaríamos que fossem e [o festival] é uma oportunidade de ir e de debater o filme, do ponto de vista da temática, que é sempre escolhida em função dos diferentes graus de ensino".
E ainda no contexto do apagão, sublinhou "a importância da rádio", que, à falta de ecrãs, "foi um ombro amigo, porque sem ela não estaríamos exatamente a perceber o que se estaria a passar".
Rui Ramos referiu que o "Encontros de Viana" trata-se de "um festival com características quase únicas" e que "é o mais antigo em Portugal, que se dedica exclusivamente à literacia, do ensino e das escolas". "Essa é uma tarefa muito difícil. Este contexto de estarmos aqui na periferia dos grandes centros urbanos, dificulta sempre este procedimento, mas acho que temos resistido e que nos temos afirmado", disse.
Programa variado, com a Inteligência Artificial em reflexão
No ano em que completa a 25.ª edição, o evento repetirá o seu formato habitual, com duas seções de competição (curtas-metragens a concurso e vídeo escolar), mostra de filmes para todos os ciclos de ensino, oficinas, masterclasses, conferências e exposições. E envolverá estudantes de cinema, alunos de todos os ciclos de ensino das escolas da região e público em geral, cineclubes de Portugal e da Galiza, com a participação de profissionais, cineastas, produtores, entidades e associações ligadas ao audiovisual.
Entre as muitas atividades do programa, consta a participação da Norwegian Film School, que será representada por uma aluna que irá partilhar as metodologias pedagógicas e uma coleção de curtas-metragens.
A Secção Olhares Frontais, programada pelo realizador Pedro Sena Nunes, decorrerá de 9 a 11 de maio, no Teatro Municipal Sá de Miranda, onde será apresentado o que de mais inovador tem surgido no cinema documental, propiciando conversas em torno das metodologias e processos de criação do documentário.
O tema da edição deste ano é "Tempos Cruzados, Inteligência artificial em reflexão" e contará com a exibição de filmes em competição, uma mostra com as melhores curtas metragens europeias de 2024, conversas e exibição dois filmes "Cartas Telepáticas" de Edgar Pêra (com presença do realizador) e "O Manuscrito Perdido" de José Barahona.
Rui Ramos indicou que, em 25 anos de história, contou 220 mil participantes, a exibição de 340 filmes, e a presença de 110 realizadores nacionais e internacionais. Foram também organizados 115 workshops, masterclasses e formações direcionados para vários públicos, com particular incidência na comunidade escolar.
"Os Encontros de Viana têm levado não só o cinema à escola, mas também a escola à sala de cinema com a exibição de mais de 70 ciclos cinematográficos. No âmbito das habituais atividades paralelas é de relevar a organização de um total de 38 exposições relacionadas com a temática da sétima arte", destacou Rui Ramos, salientando ainda "a colaboração com instituições de ensino internacionais - mais de 35 escolas internacionais de cinema e artes visuais do Japão, Austrália, Finlândia, Suécia, Polónia, Taiwan, Espanha, Rússia, Coreia do Sul, China, Holanda, Vietnam, França, Itália, Eslovénia, Brasil, Reino Unido, Alemanha, entre outros países".