Iniciativa Casa Aberta estreitou laços entre comunidade e visitantes. Evento termina hoje com jogos e concertos.
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Muitos nem se conheciam mas, este sábado, juntaram-se para saborear uma refeição preparada pelas famílias que moram nos becos e vielas do centro histórico de Ílhavo. A iniciativa dá pelo nome de Casa Aberta e mostra como o Festival Rádio Faneca envolve a comunidade local.
Pela mesa instalada no beco Arrais Piorro por quatro famílias que ali moram, passou a receita de bacalhau da avó de Conceição Fernandes e cachupa, um prato que ela aprendeu com amigos cabo-verdianos. Também lá estiveram carinhas de bacalhau fritas e hallacas (carnes guisadas envolvas em massa) feitas pela vizinha Maria Júlia Ruivo, que aludem à sua passagem pela Venezuela.
Para estes e outros pratos chegarem aos convivas valeu ainda a ajuda de António Fernandes, Élder Fernandes, Susana Barreto, Ilídio e Aldina Guedes, os restantes moradores. Deu "trabalho", mas também "prazer", confessa Maria Júlia Ruivo.
A refeição contou com poesia, um momento a cargo de Francisca Camelo e que resulta do contacto da artista com as famílias. Os encontros permitiram chegar a "histórias de uma ternura comovente ou extremamente duras, como episódios que se passaram na ditadura", revela a poetisa.
"Quando falamos de comida, falamos de afetos, de receitas que passaram de geração em geração, que vêm de países onde estiveram emigrados, da situação económica de maior ou menor pobreza". A comida "liga-nos às nossas raízes de forma surpreendente", diz Francisca Camelo.
Nesta mesa estiveram cerca de 30 pessoas, mas a iniciativa replicou-se por todo o centro histórico, congregando cerca de 150 convivas, entre moradores, convidados e pessoas que se inscreveram na iniciativa.
Nome lembra tradição
O esforço vale a pena, em nome de um festival que é "muito integrador, envolve muitas pessoas da comunidade e é diversificado", assegura Conceição Fernandes.
O Festival Rádio Faneca, que arrancou sexta-feira e termina hoje, é organizado pela Câmara. Foi buscar o nome às cabinas radiofónicas que se instalavam no jardim Henriqueta Maia, no centro da cidade, numa altura em que a televisão estava pouco difundida. Os altifalantes pendurados nas árvores transmitiam os discos pedidos pela população, que ali reunia aos domingos. Agora, além dos jantares, há jogos tradicionais nas praças, histórias contadas nos becos e vielas, artes performativas, concertos e emissão de rádio.