"As pessoas estão deprimidas... sonham com o festival". João Carvalho é um dos cérebros que criou o encontro de rock de Paredes de Coura, há 20 anos. Olha a vila que o viu crescer. Está mais moderna, mais cimentada, tem dois parques de estacionamento subterrâneo, mais lugares de aparcamento do que habitantes, um túnel, uma dívida por isso e os restaurantes de sempre.
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O Festival mudou Paredes de Coura? Sim. Colocou a vila no mapa. E criou-lhe uma bolsa de oxigénio temporária que alimenta, praticamente, o resto do ano. Único número a reter: durante a estadia por ali, nos dez a 15 dias que contornam o festival, são levantados cerca de 2,5 milhões de euros, assegura o presidente da Autarquia. "O festival tem uma importância enorme para o desenvolvimento económico, porque são 30 a 40 mil pessoas que passam cá a temporada e gastam por aqui", diz António Pereira Júnior, que esteve à frente de um antepassado do festival, em 1977, com aquele que é hoje autarca de Ponte da Barca, Vassalo Abreu.
No inverno das praças e ruas pedonais, há pouco movimento. Num ou noutro restaurante, dizem-nos que o festival é uma maravilha, sim, mas é naqueles dias. E que quem ganha são essencialmente os cafés e pastelarias, o supermercado e as mercearias. Como aquela onde trabalha Celeste Fernandes. "Nessas semanas, o patrão vai duas vezes por dia a Braga repor stocks".
"Não sei se temos hipótese de tirar muito mais proveito do que isso, mas é o balão de oxigénio", admite Pereira Júnior. Até porque, "coisa muito boa ou muito má, de vez em quando chove". Muito. As capas e os plásticos vendem que se fartam. E, no ano passado, o povo encheu de tendas os parques de estacionamento (construídos aproveitando a abertura do túnel alternativo à rua principal, fechada ao trânsito - e sim, também a pensar no festival, aceita o autarca) que só costumam lotar nas festas do concelho.
Para lá disso, há casas de férias compradas por quem foi feliz no Taboão. E abriu-se um estradão na outra margem, para dar acesso à zona de campismo. É a "estrada do rock", que era reivindicada havia mais de 20 anos pelos agricultores locais. Mas o verdadeiro ganho, conta João Carvalho, foi tornar a vila conhecida. Se antes quem a estudar para as metrópoles ouvia um "uhhh" perante o nome Paredes de Coura, hoje dizem "Ca fixe!" E toda a notícia menos boa também acaba nas primeiras páginas. Um amigo jornalista disse-o a João: "Quer queiras quer não, puseste isso no mapa".
"É impensável acabar com o festival", diz Pereira Júnior. "É pena não se rentabilizar esta publicidade a Coura", lamenta João Carvalho.