"Fez-se o possível e o impossível" para tentar salvar bebé de 11 meses afogada em casa
A tragédia aconteceu numa moradia em Arcozelo, Gaia, onde estavam os pais e os oito irmãos da menina. Os meios de socorro efetuaram manobras de reanimação durante pelo menos uma hora, mas já não foi possível salvar a bebé. A PJ investiga as circunstâncias do sucedido.
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Os pais e os oito irmãos de Raquel, de apenas 11 meses, encontravam-se em casa quando se deu a tragédia, ao início da tarde desta segunda-feira: a bebé terá sido encontrada a boiar na piscina da moradia da família, na zona da Granja, em Arcozelo, Gaia. Alertados perto das 13 horas para o "afogamento de uma criança numa piscina", os meios de socorro efetuaram manobras de suporte básico e avançado de vida, mas os vários esforços para salvar a vida da menina foram infrutíferos.
"Deparamo-nos com a criança já na sala, em paragem cardiorrespiratória, e de imediato as tripulações do INEM e a nossa começaram a fazer as manobras de reanimação", explicou o comandante dos Bombeiros da Aguda, Olímpio Pereira, sublinhando que as manobras foram efetuadas durante "pelo menos uma hora". "Fez-se tudo; o possível e o impossível para tentar reverter a situação", sublinhou o operacional.
Programa da RTP
Segundo informações recolhidas pelo JN, a família estaria a efetuar preparativos para viajar na altura em que se deu o acidente, cujas circunstâncias estão a ser investigadas pela PJ, que foi acionada para a ocorrência e só deixou o local já perto das 17 horas.
A menina era a nona filha de um casal que participou num programa sobre famílias numerosas na RTP. Na série documental relatam-se as particularidades relacionadas com agregados que têm vários filhos, recorrendo ao exemplo de diversas famílias. O casal - um empresário agrícola e uma enfermeira - foi um dos que contaram as suas experiências, quer antes do nascimento da nona filha, quer depois. Raquel tinha seis irmãs e dois irmãos.
Mortes a aumentar
O número de mortes de crianças e jovens tem vindo a conhecer um aumento significativo. Dados da APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil, noticiados pelo JN, indicam que a média de óbitos subiu de 7,3, entre 2017 e 2019, para 15, entre 2020 e 2022.
"Em Portugal, nos últimos 12 anos, em média por ano, 10 crianças morreram por afogamento e 21 foram internadas. As piscinas continuam a ser o plano de água onde mais ocorrem estes acidentes", contabiliza a APSI. Entre 2005 e 2023, aquela entidade identificou 249 situações de afogamento de crianças e jovens até aos 18 anos. Dessas, 33% (82 mortes) foram em piscinas, seguindo-se as praias (25%) e os rios/ribeiras/lagoas (24%).
Dos afogamentos em piscinas, 48 foram de crianças até aos quatro anos, 17 de crianças dos cinco aos nove anos e 13 situações de menores entre os 10 e os 14 anos.
Casos recentes
Beatriz, 6 anos
Foi na piscina de casa dos tios, em Arnoso de Santa Maria, Famalicão, que Beatriz, de seis anos, morreu afogada. Aconteceu no dia 22 de julho.
Carolina, 1 ano
Também a 22 de julho, uma bebé de um ano morreu afogada numa piscina insuflável em Bastia, França. Carolina foi sepultada em Vila do Conde, de onde é a família.
Leonor, 4 anos
Filha de um casal do Marco de Canaveses emigrado em França, Leonor, de quatro anos, morreu numa piscina particular em Cazals, a 24 de julho.
Cuidados
Vedações
A vedação da piscina não deve ser escalável nem ter aberturas que permitam o acesso das crianças. Deve ter, no mínimo, 1,10 metros de altura, fecho automático que abra para o exterior e ser transparente.
Aprendizagem
O facto de as crianças terem aulas de natação ou saberem nadar deve ser entendido como medida complementar à colocação de barreiras de acesso à piscina. A adaptação da criança à água não é suficiente para evitar afogamentos, alerta a APSI.
Coberturas
As coberturas são menos eficazes do que as barreiras verticais. Como têm de ser retiradas e colocada sempre que se usa a piscina podem dar origem a esquecimentos. Em todo o caso, devem ser rígidas, em material resistente e instaladas de forma a que as crianças não possam passar por baixo ou ficar presas.
Pedidas medidas aos partidos
A APSI a Deco e a Associação de Profissionais de Piscinas fizeram chegar ao Parlamento uma proposta de legislação que sugere, entre outras medidas, a "colocação de uma barreira vertical à volta da piscina para dificultar ou atrasar o acesso da criança ao plano de água". A APSI lançou, na semana passada, mais uma campanha de prevenção dos afogamentos.