O candidato da IL à Câmara de Matosinhos diz que "cheira a fim de ciclo" e critica obras feitas à pressa em vésperas de eleições. Filipe Garcia quer fazer um estudo para determinar a estratégia de desenvolvimento do concelho e fazer com que Matosinhos seja um modelo em termos de qualidade de vida.
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O que leva alguém que nunca teve atividade política aceitar encabeçar uma lista a uma Câmara Municipal?
Tenho quase 51 anos e nunca estive inscrito em qualquer partido. Não sou filiado também. Vou como independente nas listas da Iniciativa Liberal mas alinhado com o partido e com o Núcleo de Matosinhos. Sempre senti que os partidos gastam demasiada energia na discussão de questões internas. A ação partidária sempre me desinteressou por isso mesmo. Mas sempre tive a pretensão de que, se alguma vez me envolvesse em projetos políticos, seria ao nível local, que é onde me parece que as nossas ações podem ter alguma influência na vida das pessoas. Surgiu esta oportunidade, lançaram-me o desafio e ponderei. Vivo em Matosinhos desde 2004. Sou um cidadão de Matosinhos há mais de duas décadas. Há uma altura em que nós todos temos que, de alguma forma, melhorar a vida onde estamos, seja pela implementação de medidas, seja influenciando o poder.
Uma das maiores críticas que faz ao estado do concelho é a falta de planeamento. É isso que mais o preocupa?
Tudo aquilo que não corre bem decorre de não termos uma estratégia. Parece-me que algumas das funções básicas de uma Câmara devem estar relacionadas com a qualidade de vida. É uma Câmara grande, uma autarquia com dinheiro e tem uma estrutura muito grande. É incompreensível que não consiga resolver sequer os problemas básicos, como buracos, recolha de lixo, segurança, mobilidade. Está a ser tudo feito agora à pressa, até dá vontade de ter eleições em Matosinhos todos os anos. Cheira a fim de ciclo em Matosinhos. Parece-me evidente que não é com a oposição que tem havido que vamos ter soluções diferentes. Fica-se com a sensação de que trocar o PS pelo PSD é trocar seis por meia dúzia. António Parada é um vereador quase profissional. Não é propriamente alguém que chegue com sangue novo para fazer coisas diferentes. É preciso colocar uma aspiração para que Matosinhos seja uma referência europeia para a qualidade de vida, com um desenvolvimento mais harmonioso do concelho.
Porque diz que há um fim de ciclo?
Luísa Salgueiro não está a oferecer nada de muito novo em termos de estruturação de serviços. Não é muito transparente a relação da Câmara com os munícipes em relação a algumas coisas. Por exemplo, não há informação sobre previsão de conclusão de obras ou custos. Às vezes, parece que o cliente final da Câmara é o Executivo ou o PS e no centro das preocupações deveria de estar sempre a qualidade de vida dos munícipes. Vamos tentar trazer para as nossas listas pessoas que tenham interesse em desenvolver trabalho e não estejam preocupadas com o seu percurso político.
Qual vai ser a primeira prioridade?
Fazer o básico, buracos, lixo, poluição e ouvir mais as populações. As funções básicas são importantes. Vou analisar o orçamento de cima para baixo e tentar perceber como se anda a gastar o dinheiro para ver se é possível aliviar a carga fiscal de uma forma sustentável. Depois, vou fazer um estudo estratégico para determinar para onde queremos levar Matosinhos. Vou tentar mudar um pouco a forma como se olha para a gestão autárquica. Tem muitos tiques de início do século. Tentar que Matosinhos seja um concelho modelo do ponto de vista da modernização, da atração de investimento e da organização. Não se trata de construir casas de graça mas evoluir, ver com os privados se é possível fazer construções e depois eles explorarem. Fazer projetos piloto para ver se a área da habitação funcionaria melhor com privados ou não para que a Câmara faça o que deve fazer, mas não tenha que fazer tudo sozinha.