Num cenário nunca visto nas últimas décadas, com ruas despejadas de população e do habitual ambiente festivo, Santa Maria da Feira cumpriu, na manhã desta quarta-feira, o voto secular a S. Sebastião.
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A Festa das Fogaceiras transformou-se num ato de fé profunda, mas onde se lembrou que a responsabilidade de cada um é igualmente importante para vencer a atual pandemia.
Pela primeira vez na história das comemorações, o andor com o Mártir S. Sebastião foi colocado à saída da Igreja Matriz, em direção à cidade, num apelo dos fiéis para que este conceda a sua graça protetora, que há mais de 500 anos lhe é pedida: que livre o povo da peste.
"Sem a nossa ajuda, o voto ao mártir não terá significado", ressalvou o presidente da Câmara Municipal em plena homilia, num gesto pouco usual de usar da palavra durante a cerimónia.
Perante a presença restrita de fiéis no templo, Emídio Sousa referiu-se à entrega dos profissionais de saúde que "estão a trabalhar incansavelmente, no limite da capacidade" e que precisam da ajuda da comunidade: "Só há uma forma de os ajudar, cumprindo com as regras" as autoridades de saúde.
Mais do que nunca, devia-se fazer este voto
O autarca justificou, ainda, a realização das Fogaceiras em tempo de pandemia. "Fizemos questão de fazer a cerimónia. Muita gente entendia que não se devia realizar, mas entendemos que, mais do que nunca, se devia fazer este voto".
Minutos antes, o bispo auxiliar do Porto, D. Armando Esteves Domingues, que presidiu às cerimónias religiosas, lembrava a realização das Fogaceiras em tempo de pandemia, perante uma "sociedade que sofre, uma humanidade aflita". Ficará na memória como nunca ficou noutra época ou ano da nossa existência".
"Para além deste covid que nos impede de fazer festa exteriormente, havia e há tantas outras pandemias que afligem a humanidade. Passado quase um ano, [sobre o início a pandemia] ouve-se e vê-se que os super ricos ficaram muito mais ricos e os pobres e super pobres mais miseráveis", destacou D. Armando Esteves Domingues.
O Bispo auxiliar falou nos "venenos corrosivos" como o "racismo e a xenofobia e os populismos perigosos". "Trazem pelo mundo inteiro sinais preocupantes".
As vacinas foram, ainda, o mote para lembrar que, "enquanto se espera que as vacinas cheguem para toda a humanidade ao mesmo tempo, vemos países a comprar em excesso e a deixar outros ao seu destino".
Este ano, a Festa das Fogaceiras ficou restrita às cerimónias religiosas na Igreja Matriz, contando apenas com a presença de 31 meninas (fogaceiras).