Galveias herdou prédios degradados em Lisboa que podem valer 50 milhões, mas não consegue financiar-se para os recuperar.
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A Junta de Freguesias de Galveias, em Ponte de Sor, pode ser a mais rica do país, pelo património de dezenas de milhões de euros deixado em testamento pelo comendador José Godinho, mas está confrontada com a dificuldade em manter de pé os prédios, situados na Grande Lisboa.
A Junta assumiu a administração e gestão do património rústico e dos imóveis deixados à população pelo ilustre filho da terra (ver ficha), sob condição de nunca serem vendidos e que os proveitos da herança fosse aplicado em benefício da freguesia.
"As herdades (cerca de 6500 hectares) estão todas arrendadas e outras são exploradas pela Junta. O nosso problema está em resolver o avançado estado de degradação dos prédios distribuídos por Lisboa, avaliados em 50 milhões de euros caso fossem recuperados, porque no mercado atual valem pouco mais do que 27 milhões", afirma a presidente da Junta, Fernanda Bacalhau, que ainda não sabe ao certo o valor total do património da freguesia.
Concurso para parceria
O património herdado distribui-se por 16 freguesias, oito concelhos e três distritos. Galveias tem cinco prédios em Lisboa. Na Avenida da Liberdade, Cais do Sodré e outros locais. Alguns ocupados. "Recebemos apelos da Junta de Freguesia para intervir no prédio da Avenida da Liberdade, onde funciona só uma loja no rés-do-chão porque os andares superiores não têm condições devido ao mau estado do edifício", diz.
Fernanda Bacalhau defende um estatuto diferenciado para Galveias poder gerir este vasto património. "A lei impossibilita as juntas de se candidatarem a qualquer financiamento, nomeadamente a fundos comunitários". Contudo, "esta freguesia, pelo orçamento resultante do património, tem condições para assegurar o financiamento nacional. Mas como não está na lei, não pode aceder", lamenta.
A Junta vai lançar um novo concurso público para procurar parceiros. "Propomos que o vencedor faça a reabilitação e explore o prédio, ficando a Junta com uma parte das elevadas rendas", explica a autarca. A solução já foi tentada para o prédio da Avenida da Liberdade, mas o segundo classificado impugnou o concurso, estando o processo no tribunal", revela Fernanda Bacalhau.
Património
Infantário e piscinas
O jardim de infância e as piscinas são algumas da obras feitas pela Junta graças aos proveitos gerados pela herança. A autarquia gere ainda o refeitório escolar para os alunos da Escola Básica.
Casta de vinho alentejano
Em cerca de 4000 hectares de Galveias (foto), a Junta produz o azeite e vinho Marques Ratão, em homenagem a esta família cujo património foi doado à freguesia. Faz ainda a gestão de oliveiras e sobreiros, tem 3000 ovinos e 300 bovinos.
Museu de memória
A Junta adquiriu um casarão para instalar ao Núcleo Museológico da Freguesia, onde estará o espólio da família Marques Ratão.
Monte preferido do comendador
O Monte Torre de Sepúlveda e o Monte Cantarinho perfazem 4000 hectares de terra de montado e pasto. Era o local predileto do comendador quando vinha de Lisboa para a terra natal.
Herança
O comendador
José Godinho morreu em 1967. Ele e os quatro irmãos herdaram um vasto património, edificado e agrícola, dos pais, proprietários da Casa Agrícola Marques Ratão. Em testamento, o comendador José Godinho instituiu sua universal herdeira a freguesia de Galveias.
79 trabalhadores
Na Junta trabalham 79 pessoas nos serviços administrativos, na exploração agrícola, pecuária e florestal.
Orçamento
Com fundos estatais e receitas do património herdado, a Junta gere um orçamento de quase três milhões de euros.