A Trofa vai ter "Frigoríficos Solidários" pelo concelho. Os equipamentos estarão abertos 24 horas por dia para quem quiser depositar alimentos para doar e para quem deles necessita os poder recolher.
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A expressão "o supérfluo para uns é fundamental para outros" exprime o espírito deste projeto que se vai traduzir na distribuição de frigoríficos por pontos estratégicos que serão abastecidos com o que muitas vezes sobra de restaurantes e supermercados, bem como pela comunidade.
Os alimentos têm de estar fechados e dentro do prazo de validade
O primeiro "Frigorifico Solidário" é inaugurado sábado no exterior da Junta de Freguesia do Muro, servindo como "piloto" para a extensão do projeto às restantes freguesias da Trofa, distrito do Porto, podendo chegar a uma dezena de equipamentos espalhados.
"Vamos testar a ideia no Muro, ver como corre, ver qual a adesão. Queremos que a comunidade local se envolva e queremos trabalhar a consciencialização das pessoas. Existe muita pobreza envergonhada. As pessoas mostram resistência em procurar ajuda mas com esta ideia ninguém sabe se quem abre o frigorífico está a colocar ou a tirar", descreveu à agência Lusa a coordenadora da delegação da Cruz Vermelha da Trofa, Carla Lima.
A porta destes frigoríficos será de vidro para que sirva de vitrina e o equipamento seja aberto o menos de vezes possível para que a qualidade dos alimentos se mantenha.
Não é permitido colocar embalagens de peixe ou carne abertas nem bebidas alcoólicas e os alimentos têm de estar fechados e dentro do prazo de validade.
O ganho na consciencialização das pessoas será maior que os prejuízos
Os responsáveis da Cruz Vermelha da Trofa admitem que os equipamentos poderão ser vandalizados e têm sido confrontados com a questão sobre se será de facto quem realmente precisa que irá buscar os alimentos.
"Acreditamos que correr o risco valerá a pena. O ganho na consciencialização das pessoas será maior que os prejuízos e o ganho de imaginar que uma determinada família que tem vergonha de pedir ajuda terá assim um miminho também compensa. Arriscamos porque afinal esta ideia já foi testada em países menos desenvolvidos como a Índia e resultou", apontou Carla Lima.
De qualquer forma o frigorífico estará preso ao chão e será visto todos os dias pelos responsáveis das juntas que aderirem ao projeto, bem como duas a três vezes por semana pela Cruz Vermelha que também colocará alimentos nestas "arcas solidárias".
O projeto também envolve a criação de grupos de voluntários locais para garantir a limpeza e a manutenção dos frigoríficos.
A Cruz Vermelha da Trofa preparou um folheto sobre a iniciativa que tem como título "Frigosolidário" e no qual se lê que 50 mil refeições dos restaurantes de todo o país acabam diariamente no lixo e que um terço da comida produzida em todo o mundo também é desperdiçada, sendo a quantidade suficiente para alimentar três mil milhões de pessoas.
"Portugal não se pode dar ao lixo" - lê-se também na campanha da delegação Cruz Vermelha da Trofa, que está a completar 15 anos de atividade.