Neste concelho de Castelo Branco, há já representantes de 73 nacionalidades. Uns são refugiados, outros trabalhadores altamente qualificados, há quem estude, quem se dedique à agricultura, à indústria, às tecnologias, há até quem abra negócios. Mas também há dores de crescimento.
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Shawkat tinha 12 anos quando arriscou a vida para fugir ao inferno em que estava feito o Afeganistão. Foi em 2015, preferiu o risco de uma rota migratória ilegal a esperar que a morte batesse à porta, fez-se à estrada com mais dois irmãos, uma travessia de mais de quatro mil quilómetros onde o perigo espreitava a cada passo. Ora seguiam por ruas secundárias, ora apanhavam boleia, ora galgavam clandestinos pela montanha. “Andávamos durante a noite e descansávamos quando começava a amanhecer.” Não tinham saco-cama, mas o cansaço era tal que adormeciam de imediato, pelo menos até ser seguro seguir. Andavam em grupo, liderava-os um “guia” a quem pagaram uma pequena fortuna, se alguém não conseguisse acompanhar era simplesmente abandonado à sorte. Shawkat pontua os detalhes com um sorriso aberto, os dentes brancos sobressaem na tez queimada pelo sol, o ar leve destoa da história pesada que desfia.

