Furacão da AD passou por Espinho com Montenegro a clamar que joga "em casa em todo o lado"
(Quase) todos os caminhos foram dar, esta segunda-feira, a Espinho. A cidade que inspirou o nome da Spinumviva transformou-se numa feira das vaidades ao ser escolhida por quatro líderes partidários para o arranque da segunda semana da campanha. "Eu tenho jogado em casa em todo o lado", atirou Luís Montenegro.
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Se a segunda-feira em Espinho já é um dia movimentado por excelência, o alvoroço provocado pelas seis forças políticas que escolheram a cidade de Luís Montenegro para apelar ao voto juntou uma dose extra de confusão à manhã cinzenta. O presidente do PSD recarregou baterias em casa para enfrentar a reta final da campanha, e foi à feira que conhece "desde miúdo" piscar o olho aos reformados e martelar a ideia que repete desde o dia um: para ganhar as eleições, é preciso que os portugueses não fiquem em casa no domingo.
Em dia de terreno partilhado, nada melhor do que chegar cedo para fazer valer a presença: 60 minutos antes da hora marcada, já uma multidão de apoiantes da AD espera pelo atual primeiro-ministro, com bandeiras do PSD e do CDS ao vento, junto ao Centro Multimeios de Espinho. Ali ao lado, uma dezena de apoiantes do ADN tenta disputar a atenção com a composta caravana socialista, já a postos para gritar por Pedro Nuno Santos, e com a comitiva do Chega, liderada por Pedro Frazão, vice-presidente do partido e cabeça de lista por Aveiro. Para completar o arraial político, cuja banda sonora é feita de uma cacofonia de hinos antagónicos, ainda faltam chegar a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, e o líder do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, que este ano foi afastado da coligação.
Em frente à comitiva onde já estão Paulo Rangel, cabeça de lista da AD pelo Porto e atual ministro dos Negócios Estrangeiros, e Emídio Sousa, secretário de Estado do Ambiente e líder da distrital do PSD de Aveiro, Isabel Duarte está estrategicamente posicionada para assistir à chegada de Luís Montenegro. É de Castelo de Paiva, tem um filho a viver em Espinho, e não quis perder a oportunidade de ver o candidato ao vivo. "Gostava muito de o ver. Sempre simpatizei com ele e acho que tem feito um bom trabalho", aponta ao JN a mulher de 72 anos, à espera há meia-hora. O esforço foi em vão. De repente, o enxame de jornalistas voa em direção ao presidente do PSD, que apareceu mais atrás, anulando a hipótese de Isabel o ver de perto. Entre apertos e empurrões, a caravana da AD aventura-se no "salve-se quem puder" da feira, onde já passeia a comitiva do PS.
Avalanche laranja leva tudo à frente
No meio dos corredores apertados, o cerco de jornalistas e seguranças e o cordão social-democrata dificulta qualquer interação com o candidato. Atrás da sua banca, Nazaré da Fruta não se deixa ficar: "Montenegro, Montenegro, Montenegro". Bate palmas e projeta a voz para chamar a atenção do líder da AD, que pára para a cumprimentar. "Sou Montenegro até morrer! Sempre. Não é aldrabão, nem se preocupa com a vida dos outros, como os outros se preocupam com a vida dele", justifica a feirante de 62 anos, ao JN, numa menção à polémica com a Spinumviva. Do outro lado da banca, Gracinda Serrão levanta o braço para chamar a atenção: "Eu conheço-o desde pequenino. E eu sou leal, sempre fui fiel ao meu partido, desde a primeira vez que votei", nota a senhora, de 85 anos. "Há pouco passaram os socialistas e eu enxotei-os, quero falar com ele", aponta na direção de Montenegro.
Mas à medida que se aproxima a avalanche da AD, a mulher é obrigada a desviar-se para não ser abalroada. "Cuidado, cuidado", ouve-se no meio da multidão. "Ai Jesus, vamos todos cair", comentam os visitantes da feira, "apanhados" no olho do furacão laranja. Gracinda também não conseguiu chegar ao líder da AD. Mais adiante, indiferente ao reboliço, Maria Sá enche o saco de legumes. "Eu ligo, e até gosto de ver. Estão em campanha, acho bem. Mas a gente já o vê todos os dias na televisão e moramos perto dele", atalha a mulher de 69 anos, natural de Espinho.
Enquanto o social-democrata acena aqui e ali, cumprimentando quem o consegue alcançar, a filha de Maria Mendes apela aos seguranças e aos repórteres de imagem, na primeira linha do desfile, para deixarem a mãe chegar a Luís Montenegro. "Cuidado, está aqui uma senhora velhinha", alerta a mulher. Desta vez, o pedido surtiu efeito. O presidente do PSD baixa-se para beijar a senhora de 97 anos, sentada num banco em frente ao seu negócio. "Ai, gosto. Gosto muito dele. Vou votar nele, se Deus quiser", afirma convicta a agricultora de Maceda, Ovar. O cortejo segue feira adentro, numa dicotomia de reações, dividida entre o entusiasmo por ver um rosto conhecido e a frustração de liderar com empurrões mais uma vez.
Contas no domingo à noite
Num dia atípico, feirantes e visitantes assistiram à passagem dos dois principais candidatos a primeiro-ministro, que nas últimas legislativas ficaram separados apenas por 47 votos em Espinho, com vitória para o homem da terra. "A contabilidade que me interessa agora é no domingo à noite", afirmou Luís Montenegro, desvalorizando o facto de várias forças políticas terem escolhido Espinho para fazer campanha. No final da visita de 40 minutos a um terreno que conhece bem, o social-democrata preferiu não dar muita importância ao facto de estar a "jogar em casa", garantindo que o apoio popular é unânime por onde passa.
"Eu tenho jogado em casa em todo o lado. Francamente, temos tipo muito apoio popular, temos tido muita adesão, muito entusiasmo, muitas palavras de incentivo. Agora, ninguém ganha as eleições com palavras de incentivo, nós só ganhamos as eleições com votos. As eleições não estão decididas", insistiu o candidato, sublinhando que todos "têm uma palavra a dizer".
Numa manhã dedicada aos eleitores mais velhos, Montenegro considerou que os pensionistas e os reformados "confiam na palavra deste Governo", justificando que a mesma não é um "piropo de campanha eleitoral" nem serve para "atirar medo", como outros. "Sabem que é trabalho feito, realizado, são decisões tomadas, que estão em execução e outras que se estão a projetar para os próximos anos".