Vidros de montras partidos e portas de lojas arrombadas, 16 carros vandalizados desde o início do mês e um restaurante furtado cinco vezes em apenas dois meses. Estes são apenas alguns dos incidentes que têm sido partilhados, nas últimas semanas, no grupo do Facebook do movimento cívico "Vizinhos do Areeiro". Há também histórias de assaltos em plena luz do dia.
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É num tom de desespero que Ambrosina Monteiro conta os acontecimentos mais recentes. Em 20 anos nunca tinha assistido a um furto ao restaurante Ansião, onde trabalha. "Agora, em dois meses, fomos assaltados cinco vezes. Arrebentaram com uma porta blindada com picaretas, arrancaram uma fritadeira, destruíram mobília e um frigorífico, roubaram dois computadores e o fundo de caixa. Foi o vandalismo total", descreve, acrescentando que o prejuízo já ronda os 20 mil euros.
Nos primeiros roubos ainda substituíram o vidro da montra, mas depois deixaram de o fazer. "Repúnhamos o vidro e passado uma semana partiam outra vez. Deixamos de substituí-lo. O meu chefe tem dormido no restaurante, tem de estar aqui alguém a guardar a montra dia e noite, tem sido horrível", desabafa.
Tal como vários moradores e comerciantes do bairro, Ambrosina Monteiro diz que nunca sentiu este clima de insegurança. "Têm de pôr segurança 24 horas por dia no Areeiro, senão qualquer dia temos de ficar em casa com medo", receia. Recentemente, também assaltaram uma cliente do restaurante. "Roubaram uma aliança a uma senhora. Ela estava com mais pessoas, mas o ladrão aproximou-se, falou educadamente e baixinho, e pensaram que o conhecia. Depois apontou-lhe uma faca", relata.
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A poucos metros, Leopoldo Gonçalves também tem vivido as últimas semanas com "o coração nas mãos". A sua livraria Cult foi furtada no passado fim de semana. "Foi um roubo relâmpago, partiram a montra com uma pedra, o alarme disparou, mas fugiram rápido", recorda as imagens que viu na câmara de videovigilância.
Da loja, ali localizada desde 2015, roubaram 61 maços de tabaco, 300 euros da caixa registadora e um telemóvel. Não deixou de trabalhar, mas confessa que o faz com mais receio. "Somos o único estabelecimento aberto aqui na rua, estamos a fechar mais cedo porque não nos sentimos seguros", admite.
Insegurança cresce
Leopoldo Gonçalves e Ambrosina Monteiro acreditam que a redução do número de pessoas a circularem na rua, por causa do isolamento social, contribuiu para o aumento da criminalidade. Ambos também referem que os tapumes das obras da estação de metro do Areeiro, paradas desde 2013, ajudam ao crescimento do clima de insegurança. "É uma escuridão, mesmo de dia. Enquanto não retirarem os tapumes continuará a ser uma zona insegura", acredita Ambrosina Monteiro.
Os surtos de criminalidade nesta freguesia, situada no centro de Lisboa, já são antigos, tal como o JN noticiou em janeiro. Nos últimos dois meses, porém, tomaram proporções maiores. Só este mês terão sido vandalizados, pelo menos, 16 carros nesta parte da cidade. "Infelizmente tem vindo a crescer desde a implementação do isolamento social", acredita João Rodrigues. O morador já viu o carro ser vandalizado e furtado duas vezes num mês. "Foi à noite. Quando saí de manhã, tinha a janela partida e o carro remexido. Na primeira vez roubaram-me a carteira vazia e um relógio. Não há um dia que não se veja um carro com a janela partida no Areeiro", relata.
Há vários anos que os moradores do Areeiro pedem mais policiamento, mas as respostas não só têm tardado em chegar, como até têm piorado. "Vemos menos polícias na rua", observa Rui Martins, fundador do grupo Vizinhos do Areeiro. "Já descrevemos esta onda de vandalismo e crime à PSP e continuamos a pedir à Junta de Freguesia do Areeiro a concretização da promessa eleitoral de um guarda noturno enquanto não há um reforço de meios", lembra o representante dos moradores.
