Quem diz que a arte não se pode fundir com a tecnologia? O Centro Interpretativo do Património da Afurada (CIPA) fez questão de provar que é possível, ao promover a ilustração de caixas de eletricidade com símbolos da história da vila piscatória gaiense.
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O toque especial é que cada obra de arte tem um código QR embutido, que permite obter explicações através de uma aplicação.
Ao longo de vários dias, os artistas Nuno Palhas e Tiago Carvalho foram deixando a sua marca em caixas de eletricidade da Afurada, com o objetivo de "fazer a extensão do museu do CIPA à rua". As varinas com as suas canastras, os barcos tradicionais e os pescadores são alguns dos elementos históricos retratados.
"Queremos desviar o ruído visual através da arte urbana. Além disso, dar a conhecer a história local através deste meio. Pretendemos também chegar a novos públicos porque a Afurada está em transformação e a atrair turismo", explicou Francisco Saraiva, coordenador do CIPA.
Mas como funciona ao certo esta tecnologia? Após terem concluído os trabalhos, os artistas posicionam um molde com o código QR num sítio estratégico da pintura e aplicam-lhe tinta. Quando a pessoa, cuja curiosidade foi despertada, apontar a câmara do telemóvel naquela direção será reencaminhada para a uma aplicação online, onde terá à sua disposição todas as informações sobre o que está a observar: desde documentação histórica aos motivos que fizeram aquele símbolo ser eternizado na Afurada. Outro pormenor interessante é que, além de ler, poderão ouvir um audioguia a explicar tudo ao detalhe, não só em português, mas também em inglês.
"Trata-se de uma democratização da informação. Qualquer pessoa que tenha um ‘smartphone’ poderá aceder à nossa pesquisa sobre os temas e a ideia é que quem está a ver na rua ganhe vontade de ir ao museu. E que quem está a ver no museu também fique curioso para ver onde estão estas obras", acrescentou Francisco Saraiva. Pela Afurada de Baixo, há seis caixas de eletricidade prontas a serem apreciadas. Mas é possível perceber pela aplicação que o plano será alargar o projeto, até porque as primeiras reações foram muito positivas.
Tiago Carvalho, 34 anos, natural de Gaia, é um dos dois artistas envolvidos no projeto. Feliz por poder contribuir para uma zona com que tem ligação, relata experiências muito positivas com a comunidade.
"Foi muito engraçado ver as pessoas à nossa volta curiosas com o que estávamos a fazer e, quando se apercebiam, iam logo ao vizinho passar a palavra. Ficavam especialmente felizes ao notarem que a arte era sobre elas e a sua terra", revelou, acrescentando que até houve mesmo quem pedisse para fazerem o mesmo trabalho junto das suas casas.
Já Nuno Palhas, 46 anos, começou o seu percurso pelo graffiti e está bastante feliz por ter conseguido criar uma fusão entre a arte e a tecnologia, através de tinta com base acrílica. "Apesar de ser diferente trabalhar numa área de 500 m2 ou numa caixa de eletricidade, o propósito é o mesmo", admitiu, salientando que isto pode atrair os curiosos que viajam pelo Mundo atraídos pela arte urbana.