Iniciativa “Aldeia Feliz” da Universidade do Minho leva 22 estudantes de Medicina a fazer rastreios cardiovasculares e a interagir com população idosa. Projeto tem o apoio da câmara local e percorrerá até sábado várias freguesias.
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Isaque Alves, de 79 anos, diabético, recebe animado a visita de um grupo de estudantes de Medicina da Universidade do Minho (UMinho), que está desde esta quinta-feira de manhã a percorrer a freguesia de Fontoura, em Valença.
Marta Duarte, Matilde Ferreira, Maria Fontão, Francisco Matos e Emanuel Araújo são cinco dos 22 futuros médicos que formaram equipas e andam de porta em porta a fazer rastreios cardiovasculares e a interagir com população mais idosa. Isaque e a mulher, Maria de Fátima, de 77 anos, deixaram as lides do campo de lado durante algum tempo e foram dos primeiros a ser visitados. Com a entrada em casa dos estudantes, a esposa fez o exame à glicemia pela primeira vez. Já o septuagenário está mais do que habituado às picadas para medir a glicemia.
“É picada de enfermeiro”, brincou Isaque, quando Marta Duarte lhe perguntou se lhe podia "picar" o dedo. “Eu por acaso controlo amiúde porque a minha neta é enfermeira e eu peço-lhe e ela está sempre pronta”, contou, mostrando-se feliz com as visitas.
A iniciativa do Departamento de Ação Comunitária (DAC) do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM) está no terreno com o apoio da câmara de Valença. O objetivo é a prevenção e o controlo das doenças crónicas, através da realização de rastreios cardiovasculares.
Emanuel Araújo, natural de Vila Verde, distrito de Braga, também considera “importante” levar alegria aos mais velhos.
“O objetivo principal é fazer rastreios, medir a tensão arterial, a glicemia capilar, o peso, mas para mim, o objetivo é também trazer um bocadinho de animação, porque esta população é muito idosa, nem sempre está com jovens, com gente nova ou mesmo com a família”, observa.
O presidente da junta de Fontoura, André Rodrigues, que acompanhou o grupo pela aldeia, até como forma de mitigar eventuais desconfianças da população, considera que este tipo de ação deveria ser replicada. “É muito interessante e vai muito de encontro às necessidades da população, principalmente mais idosa”, afirmou, acrescentando: “Penso que até será uma boa ideia para o futuro. Podemos eventualmente tirar algumas ilações desta iniciativa, no sentido de criar uma equipa mais abrangente da freguesia e talvez do concelho”.
Marta Duarte, coordenadora da ação, entende que “há um grande trabalho” a fazer nas aldeias, "por exemplo, em sensibilização nos sinais e sintomas de um AVC e também de um enfarte, que são patologias que afetam muito as pessoas idosas".
"O tempo conta nestas situações e ligar para o 112 logo é a única forma de ter os melhores cuidados”, afirma a estudante de Medicina, comentando que, no porta a porta, “encontram sempre muitos casos de hipertensão arterial e diabetes, e aconselhamos a procurar o médico de família. O que que nós queremos aqui é apostar na prevenção”, sublinha.
Manuela Andrade, técnica da Ação Social da câmara de Valença, enalteceu o projeto e indicou que “será vontade do executivo dar continuidade” a este tipo de ações, destacando a importância da iniciativa também para os estudantes de Medicina. “Serve para terem um bocadinho a noção de como é que estas pessoas vivem. Muitas vezes o médico não tem noção das condições em que vivem os doentes. É importante que tenham noção da realidade dos concelhos e destas zonas mais rurais do país, onde muitas vezes é difícil as pessoas darem continuidade aos tratamentos”, disse, explicando que essa foi também uma das razões pelas quais a câmara “abraçou” o projeto “Aldeia Feliz”, proporcionando alojamento, refeições e transportes aos voluntários da UMinho.