Porto Digital, que congrega 350 empresas em Recife, quer transformar a cidade dos canais na capital da tecnologia
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O Porto Digital, um dos maiores parques tecnológicos e de inovação do Brasil, quer começar a instalar um polo em Aveiro no início do próximo ano. Uma comitiva de 25 empresários explora oportunidades esta semana, durante a Aveiro Tech Week, um evento dedicado à ciência e tecnologia.
"Ter uma base em Portugal é relevante do ponto de vista do capital humano" e de "internacionalização na Europa", explicou esta segunda-feira ao JN Pierre Lucena, presidente do Porto Digital. A "grande aspiração é tornar Aveiro a capital nacional da tecnologia, como fizemos com Recife", algo que acredita ser possível no espaço de "10 anos".
Antes de escolher Aveiro, o Porto Digital ponderou vários locais, nomeadamente Porto, Matosinhos e Fundão. A cidade dos canais acabou por sobressair devido às similaridades com Recife (ambas têm canais urbanos) e ao custo de vida, mais baixo do que em Lisboa, por exemplo, o que permite ter "qualidade de vida com o salário pago no Brasil", explica Lucena.
O Porto Digital notou ainda que "há um interesse legítimo da cidade em instalar um ambiente de inovação" como o de Recife, onde o projeto reabilitou uma zona degradada da cidade e tem instaladas 350 empresas, várias incubadoras e emprega 15 mil pessoas.
A existência de um Parque de Ciência e Inovação e da Universidade de Aveiro, "uma joia no centro da cidade, muito boa, com tecnologia avançada e mais de 1000 brasileiros estudando" completam o rol de fatores decisivos.
25 empresários presentes
Em abril, uma equipa do Porto Digital esteve em Aveiro para fazer uma "pré-incursão" e agora volta com 25 empresários que "estão interessados" em instalar-se. "Está já é uma vinda para firmar compromisso", sublinha Lucena, adiantando que em novembro o edil aveirense, Ribau Esteves, é aguardado num evento em Recife.
Segue-se a "fase de implantação" em Portugal. Em março de 2023 deverá estar a funcionar um espaço provisório para as empresas se instalarem. Será montado um escritório para ajudar a ultrapassar a burocracia relacionada com a criação de empresas e a logística de mudança de profissionais brasileiros, nomeadamente a nível de obtenção de visto, procura de casa, inscrição de filhos nas escolas e acesso a cuidados de saúde.
A Câmara, diz Lucena, está a "analisar" várias possibilidades de localização definitiva no centro da cidade, para depois "ceder" um prédio. Conforme o polo for crescendo, deverão ser selecionados mais edifícios.
No final do primeiro ano de atividade espera-se que estejam "pelo menos 200 pessoas" a trabalhar. "O pessoal mais sénior e especializado tenderá a vir do Brasil", sendo que depois as equipas serão complementadas com "profissionais que saem da universidade" em Portugal. Existirá, também, a possibilidade de alguns profissionais portugueses poderem ir para o Brasil trabalhar.
Reter talento
Um dos grandes desafios do Porto Digital no Brasil é a retenção de talentos, algo que Lucena acredita será igualmente difícil em Portugal. A "migração" de profissionais da área tecnológica é "grande" e é preciso "fazer com que o jovem português fique em Portugal". A oportunidade de terem uma "carreira" será decisiva neste esforço de retenção.
"A expectativa é que daqui a uns 10 anos Aveiro possa ser a capital da tecnologia em Portugal, com a ajuda do Porto Digital", reforça ainda Pierre Lucena, explicando que a área da tecnologia está em grande desenvolvimento e é preciso "correr" para não se perderem oportunidades.