A GNR intercetou uma carrinha em Alcochete com mais de 800 quilos de ameijoa retirada ilegalmente do estuário do rio Tejo, que tinha como destino Espanha.
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Desde 2011, as autoridades apreenderam no estuário do Tejo cerca de 70 toneladas e identificaram mais de 560 infratores.
"Comprei as ameijoas aos mariscadores a dois euros e ia vendê-las a dois euros e dez [cêntimos] a um outro comprador para as levar para Espanha. Com estes 818 quilos ia ganhar 80 euros, mas acabei de perder 1632 euros, que tinha pedido ao meu pai", explicou o comprador, à agência Lusa, visivelmente emocionado, enquanto, no final da tarde de quarta-feira, os elementos da GNR confiscavam a carga, na zona do Samouco, Alcochete.
Há cerca de um mês, o homem - que pediu anonimato - foi intercetado pelas autoridades a transportar cerca de 500 quilos de ameijoa.
"Estou à espera da coima para pagar. Esta é a segunda vez que sou apanhado. Não tenho condições para continuar com isto, pois tenho a renda da casa e a prestação do carro em atraso e não tenho dinheiro. Só lamento que não me deixem trabalhar, já que quero legalizar-me e não consigo. São só burocracias", desabafa o infrator, perante o olhar impotente da esposa, que o acompanhava.
"A baixa-mar foi muito grande e como há muitos mariscadores na apanha ilegal da ameijoa, desenvolvemos a operação que culminou com esta apreensão. Só em agosto, apreendemos cerca de 13 toneladas. Por norma, o infrator diz que a ameijoa japónica vai para Espanha, onde pode ser comercializada, pois existe um centro de transformação. Mas muitas vezes, vemo-las nos supermercados e nos restaurantes", adiantou o primeiro-sargento Gil Matos, do controlo costeiro da GNR.
Nas apreensões de ameijoa ilegal, é chamado ao local o veterinário municipal para avaliar o estado e decidir o que fazer aos bivalves.
"Se a maioria dos animais estiver vivo, que é o caso, normalmente faz-se a restituição ao habitat natural e são devolvidos ao rio. Se a grande parte estiver morta, opta-se pela destruição e vai para um aterro sanitário. Neste caso, a ameijoa vai voltar para o mar", decidiu João Monteiro, veterinário da autarquia do Montijo, acrescentando que esta é a "quarta ou quinta" apreensão para a qual é chamado este ano.
O responsável sanitário deixou o alerta para os problemas, ao nível das intoxicações alimentares, que este tipo de bivalves pode provocar nos consumidores, quando não é devidamente tratado.
Após a decisão do veterinário municipal, a carrinha, escoltada por um carro da Guarda Nacional Republicana, seguiu em direção ao cais do Seixalinho, onde os mais de 800 quilos de ameijoa japónica, foram devolvidos ao rio Tejo.
Desde o início do ano, em menos de oito meses, a GNR apreendeu cerca de 23 toneladas de ameijoa retirada ilegalmente do estuário do rio Tejo, sensivelmente a mesma quantidade confiscada no ano passado.
Entre janeiro de 2011 e agosto deste ano, foram identificadas mais de duas dezenas de angariadores/revendedores.
A Polícia Marítima (PM), por seu lado, apreendeu, em 2011, cerca de 11 toneladas de ameijoa, valor já ultrapassado este ano. Até 20 de agosto, esta entidade tinha apreendido 13 mil quilos.
A PM adianta que em 2011 identificou e constituiu arguidos em processo de contraordenação, por pesca ilegal de ameijoa, 419 pescadores. De janeiro até agora, foram levantados 120 autos de contraordenação.
Juntando os dados das duas entidades fiscalizadores, entre janeiro de 2011 e agosto deste ano, foram apreendidas cerca de 70 toneladas de ameijoa ilegal no estuário do rio Tejo, e identificados mais de 560 infratores.
No dia 14 deste mês, um mergulhador morreu no rio Tejo, na zona de Alcochete, enquanto apanhava ilegalmente ameijoa, tendo o corpo sido resgatado três dias depois.