Na Filandorra – Teatro do Nordeste, de Vila Real, o gosto pela representação passa de geração em geração. Inês Medeiros, de 13 anos, já segue as pisadas da mãe, Bibiana Mota, 40, que, por seu lado, já tinha seguido as do pai, David Carvalho, 69, que é o diretor-artístico da companhia.
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Os três estão no ativo, embora Inês concilie o teatro com os estudos. David Carvalho faz a comparação deste gosto passado de pais para filhos com “aquela gente rica que deixa terras e quintas aos descendentes”. No seu caso deixa “uma quinta especial, que é a da cultura e a da arte do teatro”.
É uma arte que está presente em permanência nas suas vidas. Rara é a refeição em que não há conversas sobre teatro à mesa. David lembra-se de um dia ter ido almoçar com Inês, na altura com sete anos, e de ela ter começado a “dizer em voz alta um trecho da peça de Frei Luís de Sousa que estava em cena. As pessoas começaram a olhar, surpreendidos por aquela menina estar a dizer o texto de forma teatral”.
Inês diz que o faz de forma “muito natural” e que “não é preciso um esforço muito grande”. Gostava do texto e como a mãe tinha de fazer o papel da “Maria” de Frei Luís de Sousa, ajudou-a a decorá-lo. “Penso que foi o primeiro texto em que ela me deu a deixa e que me ajudou num papel emocionante”, recorda Bibiana.
Fazer teatro para sempre
Por mais que uma vez David Carvalho levou a neta de concelho em concelho, com ela a demonstrar a “avidez de quem quer estar”. “Acaba por ser engraçado, mesmo que daqui a amanhã não seja este o seu futuro”. Mas Inês confessa que quer “fazer teatro para sempre”.
Bibiana interessou-se pelo teatro porque começou a vê-lo desde “muito cedo”. Consegue olhar para Inês e rever-se nela, pois o gosto que a filha mostra em estar com o avô foi o mesmo que ela teve com o pai quando era pequena. “Gosto, amor, dedicação e estudo” continuam a fazer parte da sua vida de atriz na Filandorra e “espera que por muito tempo”.
Trabalhar com o pai “foi mais complicado em tempos de menor maturidade”, mas por norma “é fácil entender a sua linguagem artística”, pelo que “não há muitas divergências ao nível da interpretação e da direção”. Sobre a filha entende que “tem só 13 anos e há de ter mais preparação à medida que a vida a vá instruindo”, mas, em privado, há sempre “correções e conselhos para melhorar a prestação dela”.
Inês “lida bem” com as correções e diz-se “grata” por ter a oportunidade de ter a mãe e o avô como mentores e, ao mesmo tempo, por “poder partilhar esta arte, que é tão linda, com eles”. Com esta passagem do gosto pelo teatro entre gerações, David Carvalho acredita que “a quinta está salvaguardada”.