Na aldeia de Gouvães do Douro, são mais as casas vazias do que as que têm gente. Não há cafés e mercearias só as ambulantes.
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A aldeia de Gouvães do Douro, em Sabrosa, chegou a ser sede de concelho, no início do século XIX. Hoje, moram pouco mais de uma centena de pessoas, na sua maioria com mais de 60 anos. Os jovens são poucos e os mais velhos também. Há quem diga que daqui a alguns anos a aldeia deixará de ter habitantes.
"Isto qualquer dia acaba. Os novos não se querem cá e os mais velhos vão desaparecendo", conta Maria da Luz Seixas , 84 anos, avó do jovem mais novo da aldeia, com 10 anos, que vai todos os dias para a escola em Sabrosa. Arregalam-se-lhe os olhos quando se lembra dos tempos em que havia "tanta mocidade" e "baile todos os domingos". Agora a realidade é outra e já os olhos se lhe enchem de lágrimas quando recorda: "em minha casa éramos mais de 12 pessoas, hoje sou sozinha".
O mesmo acontece na rua onde tem a sua casa. "Éramos 11 casas habitadas, hoje somos duas". A sua e a de Maria Amélia, 78 anos. As vizinhas que fazem companhia uma à outra. " É o que nos vale para passar o tempo", atira Amélia, que vive com um irmão.
Maria da Luz já se atreveu a contar as casas habitadas de Gouvães. "São umas 30" e fechadas são "mais de 40". Foi em tempos proprietária de um dos quatro cafés e mercearia que havia na localidade. "Hoje não há nenhum". O que vale aos habitantes são os vendedores ambulantes que ali passam todas as semanas, com o pão, a carne, o peixe, e o merceeiro.
Maria Celeste tem 86 anos e "ainda agora" se encheu de chorar. "Tenho cá a minha neta, que mora em Andorra, mas já se vai embora". É o que mais lhe custa: "Ver a família longe de casa" , mas sabe que "aqui é muito difícil para se governarem", embora um dos dois filhos tenha decidido ficar na aldeia. "Às vezes sento-me à varanda e não se vê uma alma", diz.
Maria Agostinha, viúva e com os 82 anos que ninguém lhe dá, tem três filhos, todos emigrados. Tal como Raimundo Lima, de 70 anos, com os seus três filhos e sete netos fora do país. "Não lhes dava por conselho regressarem. Isto para os jovens não dá", garante. "Vai dando para mim e para a minha mulher, que já temos a vida orientada, ou para quem já está reformado", explica.
Dada a diminuição da taxa de natalidade e o envelhecimento populacional, a Câmara Municipal de Sabrosa atribui, desde 2019, um subsídio de mil euros a cada criança nascida no concelho. Também a Junta de Freguesia procura ajudar os habitantes, tendo criado um táxi solidário para a sede de concelho, que custeia 80% do valor do bilhete.