Pelos textos publicados nos dias seguintes à inauguração da barragem do Alqueva, no Alentejo, o título que o Jornal de Notícias deu à reportagem sobre a obra foi acertado: "Uma miragem que acaba ao fim de quatro décadas". "O empreendimento pensado na era de Salazar promete dinamizar a agricultura e o turismo no Alentejo", escreveu o JN na edição de sexta-feira, dia 8 de fevereiro de 2002.
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A barragem que permitiu criar o maior reservatório artificial de água da Europa foi inaugurada por António Guterres. Os membros do governo e os convidados para a cerimónia de encerramento das comportas foram transportados "de autocarro" para o local.
José Sócrates, ministro do Ambiente e Ordenamento do Território, Elisa Ferreira, ministra do Planeamento, e Jaime Silva, ministro da Agricultura, foram no mesmo autocarro. Com António Guterres de saída do governo, Sócrates ganhou relevância na inauguração.
"Durante a última campanha para as eleições legislativas, José Sócrates, na qualidade de secretário-geral do PS, visitou o Alqueva a 5 de fevereiro do ano passado e assumiu o compromisso de criar por ano cinco mil hectares de novas áreas de regadio no Alentejo", considerando o lago "extremamente importante para a produção hidroeléctrica, para a qualidade ambiental da água, para a reflorestação do rio Guadiana, mas também ao nível do turismo".
O desenvolvimento turístico nos municípios de Portel, Moura, Reguengos de Monsaraz, Évora e Beja foi apontado como um dos principais motivos para a construção.
A decisão de avançar com o empreendimento foi tomada em 1957, mas, durante os anos de construção da barragem, a obra esteve parada várias vezes e por vários motivos. Em 1978, teve a primeira paragem e a construção só foi retomada em 1995, depois da criação da Comissão Instaladora da Empresa do Alqueva. Um ano depois, o Conselho de Ministros assumiu "avançar inequivocamente com o projeto" com ou sem financiamento comunitário e, em 1996, é adjudicada a empreitada principal de construção civil da barragem e central. Meses depois, têm início as "betonagens".
A discussão sobre o fim da Aldeia da Luz original e da construção de uma nova aldeia marca os últimos anos da obra. Todos os moradores da Luz tiveram casa nova, o cemitério foi transladado e a aldeia foi coberta pela água. Em 2001, nova polémica com a desmatação e a desarborização da albufeira. O fecho das comportas e início do enchimento da albufeira, em 2002, foi recebido pela população com um sentimento de resignação.