O primeiro-ministro, Luís Montenegro, garantiu o “compromisso inabalável” de transformar o Itinerário Principal 3 (IP3) numa autoestrada “de uma ponta até à outra”, nos cerca de 80 quilómetros entre Coimbra e Viseu. Viagem deve encurtar em 22 minutos.
Corpo do artigo
Uma promessa feita, esta segunda-feira, em Tondela, durante a cerimónia de assinatura do auto de consignação da duplicação do troço do IP3 entre Santa Comba Dão e Viseu. “As expectativas foram muitas vezes frustradas no que diz respeito ao projeto de modernização, de reconfiguração do IP3, nomeadamente naquele que é o grande objetivo, que hoje é mesmo um compromisso inabalável deste Governo, de o transformar numa via em formato de autoestrada de uma ponta até à outra”, disse Luís Montenegro, que se deslocou a Tondela par acompanhar o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, à cerimónia de consignação da obra, que estava prevista avançar em 2024 mas que estagnou com a queda do Governo de António Costa, em novembro de 2023.
O anúncio de Montenegro vai além da promessa que havia sido feita pelo anterior ministro das Infraestruturas, João Galamba, que anunciara a mesma obra, com o objetivo de dotar o IP3 com via dupla em 85% do traçado. Declarações proferidas à Agência Lusa a 14 de outubro de 2023, três semanas antes da queda do Governo do PS, que considerava esta "a maior obra rodoviária de sempre financiada diretamente pelo Orçamento do Estado".
Cerca de 18 meses depois, a obra vai mesmo sair do papel. "Consignar, como sabemos, significa que a obra vai para o terreno", disse o presidente do conselho de administração da Infraestruturas de Portugal (IP), Miguel Cruz. Considerando que se trata de "uma empreitada de grande complexidade", disse que a reconfiguração do IP3 é importante em termos de "segurança, ambiente e eficiência económica".
A obra, orçamentada em cerca de 103 milhões de euros, foi adjudicada à Ferrovial, com um prazo de execução de 870 dias. A duplicação do IP3 entre Santa Comba e Viseu integra o conjunto de intervenções rodoviárias prioritárias contemplado na Resolução do Conselho de Ministros 69/2025 de 20 de março. Até ao final de junho, a IP deverá apresentar o cronograma de ações, concursos e obras necessárias para garantir uma ligação rodoviária em traçado duplo (duas vias para cada lado) entre Souselas e Santa Comba Dão.
Ligação ao aeroporto de Alcochete
Como que em resposta à presidente da autarquia local, Carla Antunes Borges, que pediu que fosse dado seguimento à intervenção para lá de Tondela, o primeiro ministro anunciou que a esta obra se seguirá a requalificação do troço entre Santa Comba Dão e Souselas (Coimbra), também previsto pelo anterior Governo, e também da ligação do IP3 à autoestrada A13. “Será, no futuro, uma ligação privilegiada desta região a todo o contexto sul e em particular ao novo aeroporto de Lisboa, em Alcochete”, disse Luís Montenegro.
O IP3, em particular no troço Coimbra-Viseu, corresponde a um corredor de elevada procura com níveis de tráfego muito intenso, agravado pela orografia e pela elevada percentagem de veículos pesados que ali transitam, informa o Governo, numa nota. “O objetivo da intervenção é aumentar a capacidade e melhorar o traçado deste troço, e a segurança rodoviária, permitindo que a via passe a ter perfil de autoestrada em grande parte do percurso e também vias de aceleração e abrandamento regulamentares nos nós de ligação”, lê-se na página do Ministério das Infraestruturas. Ao mesmo tempo, pretende-se reduzir o tempo de viagem entre Coimbra e Viseu, de 65 para 43 minutos.
Mais de 150 mortos em 32 anos
Luís Montenegro lembrou que o IP3 é “uma via estruturante, que tem uma importância determinante do ponto de vista económico e social”, mas que, “infelizmente, traz na sua história páginas sombrias de acidentes e perdas de vidas humanas”. Embora não haja dados oficiais e apesar da disparidade dos números, um trabalho da agência Lusa, em 2023, estimou que tenham morrido mais de 150 pessoas entre a inauguração daquela via, em 1991, e o levantamento efetuado há dois anos.
Um número que estará desatualizado, pois nos últimos dois anos continuaram a registar-se acidentes e vítimas. O último ocorreu há duas semanas, precisamente no troço agora adjudicado, e ceifou a vida a um jovem de 22 anos.
A agência Lusa referenciou 153 vítimas mortais até 2023, tendo em conta relatórios de sinistralidade da antiga Direção-Geral de Viação (DGV), Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) e dados da GNR. Como as metodologias de cálculo dos acidentes com mortos e feridos graves, e a forma de os divulgar, sofreram alterações ao longo dos anos, é impossível saber ao certo quantas vidas se perderam nesta importante via desde que foi inaugurada.