Forte trovoada acompanhada de granizo atingiu de forma muito severa duas freguesias de Vila Real. "90% da colheita desta vindima ficou afetada".
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Foram cerca de 15 minutos de queda de granizo intenso, do tamanho de "nozes e bolas de pingue-pongue". "Um ano de trabalho ficou reduzido a quase nada", conta Leonilde Couto, viticultora de Abaças, Vila Real, uma das prejudicadas com o mau tempo de anteontem à noite, que também arrasou plantações em Guiães. Segundo o levantamento dos técnicos do Ministério da Agricultura, há 300 hectares de vinha com prejuízos.
Em 60 anos de vida, Leonilde garante que nunca viu "nada assim". Costuma ter uvas para produzir cinco pipas por ano, mas depois da tempestade, que mais parecia "o fim de mundo", se colher uma pipa "já é muito", diz a viticultora, que ainda anda a fazer contas à vida, mas considera que "90 % da produção foi atingida".
Este ano, avizinhava-se uma vindima farta, diz a viticultora: "Nunca tive tanta uva como este ano, as videiras estavam carregadinhas". O marido ainda se atreveu a contá-las, diz, "havia videiras com 20 cachos, agora não sobra nenhuma".
O granizo partiu a vara da videira, os cachos ficaram todos no chão e os que ainda se mantêm pendurados "estão magoados e vão acabar por apodrecer", explica a agricultora. Quando chegou e viu tamanha desgraça, disse Leonilde ao marido: "Vende a vinha, que eu já não a quero mais", conta.
Correr atrás do prejuízo
Agora, é preciso correr atrás do prejuízo e "tentar salvar a vara, para ver se se aproveita para a poda, porque, senão, tem que se fazer nova plantação", esclarece.
Nesta fase, aplica-se cálcio e sulfato, tratamentos extra "que já não eram precisos em condições normais". "Gasta-se muito dinheiro, um litro de cálcio são quase oito euros, fora o que já gastamos. É por estas e por outras que há cada vez menos agricultores", acredita.
Cristina Brigas tem terrenos em Abaças e em Guiães e o prejuízo "é muito". Em Guiães, a vinha estava mais avançada. "Os bagos já estavam limpinhos, era só cortar as pontas, deitar mais uma vez ou duas sulfato e estava praticamente a novidade granjeada", constata. "Uma pessoa anda o ano todo a lutar contra o míldio, doenças, pagar mão de obra e, depois, de um momento para o outro, destrói-se tudo", atira.
O presidente da Junta de Freguesia de Abaças, Filipe Brigas, diz que " há agricultores que não vão ter uvas para preencher a carta do benefício". O autarca adianta que há outros frutos fustigados. Caso da cereja de junho, e até a azeitona, sofrerão quebras.
Situação normal nesta altura do ano
A queda de granizo de anteontem à noite "é normal nesta altura do ano", afirmou, ao JN, a meteorologista Patrícia Gomes, esclarecendo que uma das razões tem a ver com o facto de estarmos numa estação intermédia (do inverno para o verão). Segundo a especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), deu-se uma convecção profunda, isto é, uma instabilidade severa, somada a trovoada e à formação de granizo.
Apoio técnico
O Ministério da Agricultura vai disponibilizar apoio técnico aos agricultores, no sentido de ajudar a cicatrizar as culturas, tentando não se perder a totalidade da colheita.
Stands de carros
O granizo destruiu também automóveis para venda, em cerca de 20 stands na zona industrial de Vila Real. Os prejuízos poderão passar o meio milhão.