Investidor compra prédios e aguarda aprovação da Câmara do Porto para a requalificação. Confeitaria Serrana fechou e já acolheu trabalhos de restauro.
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O Grupo Lionesa, de Pedro Pinto (administrador que também é dono da Livraria Lello), comprou alguns edifícios na Rua do Loureiro, no Porto, e quer devolver à artéria, que é uma das mais antigas da urbe, a aura de um "postal da cidade".
O projeto de requalificação deu entrada na Câmara do Porto e assim que for aprovado avançará. Ao JN, uma fonte do investidor confiou que tal deverá acontecer durante este ano, sem avançar mais pormenores sobre o teor do projeto. Entretanto, a Confeitaria Serrana, no número 52 da Rua do Loureiro, que integra a listagem das lojas "Porto de Tradição" e faz parte do património do Grupo Lionesa, encerrou no passado dia 31, mas já recebeu trabalhos de restauro. Para Mónica Oliveira, da família que tem gerido a confeitaria desde 1976, o fecho de portas, nos moldes em que funcionou até aqui, era uma inevitabilidade. "Não contava estar nesta situação", referiu, abatida pela vertiginosa quebra do negócio, acentuada pela pandemia, que a obrigou a encerrar, por duas vezes, no ano passado e em 2020.
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"Pequeno Bairro"
Para Mónica, a Serrana foi a sua vida desde criança. Dizer adeus custou-lhe imenso. "Quando viemos para cá, trabalhávamos bastante. Havia muito comércio. Nas semanas do Natal e da Páscoa, lembro-me que ficávamos no estabelecimento, nós e os pasteleiros, a dormir na parte da cima, para dar vazão ao que se vendia: bolo-rei e pão de ló. Passei aqui mais tempo do que em casa. Gosto de lidar com o público. Ficam as boas memórias. Conheci o meu marido na Rua do Loureiro e quando casei os funcionários da Rádio Popular [também com loja na rua] fizeram-me uma festa-surpresa. Isto era como se fosse um pequeno bairro", recordou, acreditando num "futuro bonito" para a Serrana, agora sob a liderança do Grupo Lionesa.
Na condição de historiador e cliente da confeitaria, Joel Cleto anotou que antes de ser ocupado pela atividade da Serrana, afamada pelas bolas de Berlim, o espaço funcionou como ourivesaria. "Em 1880, um famoso ourives do Porto, o senhor Alfredo Cunha, instalou-se aqui. A rua era uma das grandes portas de entrada da cidade. Isso levou-o, em 1912, a qualificar ainda mais a sua ourivesaria Cunha e a efetuar intervenções importantíssimas, que ficam associadas a grandes artistas: Acácio Lino, que fez uma pintura de Arte Nova, na qual está retratada uma jovem repleta de joias e até um pavão; José Oliveira Ferreira, outro grande nome, que fez esculturas com anjinhos para reforçar este ambiente de luz", descreveu.
"Um Legado da cidade"
Precisamente para proteger as esculturas e a pintura, este património foi alvo de uma "intervenção preventiva", como explicou Nélson Neves, da empresa N-Restauros. "O que se pretendeu foi estabilizar os vários níveis pictóricos, assim como fazer algum trabalho de consolidação. Vai permitir a salvaguarda para o futuro", disse. Nélson Neves adiantou tratar-se de "um legado da cidade" e que "numa próxima intervenção serão restituídas as características originais do espaço".