São cerca de 20 homens que aliciam com droga e atuam sobretudo nas ruas da Fábrica e das Carmelitas. Empresários denunciam mau ambiente.
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PSP diz que indivíduos estão identificados e que, muitas vezes, o que vendem não é produto estupefaciente.
É noite de sexta-feira e a movida do Porto, na zona dos Clérigos, junta milhares de pessoas. Na Rua da Fábrica e das Carmelitas, um grupo de indivíduos aborda quem passa, tentando vender "marijuana, haxixe e cocaína". Muitas vezes, o produto não passará de louro ou medicamentos esmagados, mas o clima de insegurança é real.
A situação, que é evidente, tem-se agravado e os proprietários dos bares temem pela segurança da zona. Dizem que o grupo é constituído por cerca de 20 homens, que abordam os clientes, incluindo turistas, de forma incisiva.
A PSP confirma a existência do grupo, garantindo que já está identificado. Acrescenta que os indivíduos atuam durante o dia junto à Estação de S. Bento. A PSP sublinha que já foram feitas detenções, mas que o os homens em causa, "na maior parte das vezes, não vendem droga". "São casos de burla", conclui, assegurando que são feitas várias operações da PSP na Baixa.
"Questões de segurança são da responsabilidade e competência da PSP. Não obstante, a Câmara do Porto tem manifestado preocupação junto da PSP no sentido de reforçar também a segurança dos moradores", referiu a Autarquia, acrescentando que estas questões devem ser endereçadas ao Ministério da Administração Interna.
Intimidação
Os empresários, que não se identificam por temer represálias, denunciam um clima de insegurança e até intimidação. "Fazem abordagens constantes, às vezes à mesma pessoa", contou o dono de um bar. "Quando a polícia aparece, dispersam. Mas voltam", acrescentou.
O cenário, que tem vindo a agravar-se há dois anos, levou os bares e restaurantes da Rua de Cândido dos Reis a assumir a vigilância na artéria, contratando serviços da PSP. Os agentes em regime de gratificados estão na rua ao fim de semana. Esse trabalho da PSP representa uma despesa mensal que atinge os milhares de euros.
As abordagens são sempre feitas nas ruas da Fábrica e das Carmelitas, formando um cerco ao quarteirão. A vigilância extra atua há pouco mais de um ano e mitigou o problema na Rua de Cândido dos Reis. Mas não por completo. Ao invés de interpelarem as pessoas nas esplanadas, o grupo concentra-se na Rua da Fábrica e ali consegue abordar os clientes. A artéria tem grande circulação por servir de passagem às ruas dos bares.
Bolsa à cinta
Aos seguranças privados dos estabelecimentos, juntaram-se entre seis a oito polícias para evitar as abordagens. "O problema nunca vai desaparecer", temem os empresários. O aumento da vigilância provocou, apenas, um recuo do grupo na Rua da Fábrica, que agora permanece nas esquinas da Rua da Galeria de Paris.
Quase todos os homens do grupo têm uma bolsa à cinta, denunciando a sua atividade e criando uma sensação de desconforto entre os frequentadores da movida. Segundo contaram os empresários ao JN, antes da vigilância extra da PSP, muitos estabelecimentos consideraram libertar os espaços da Rua de Cândido dos Reis por verificarem uma perda significativa de clientela.
Só a partir de meados do ano passado, com o policiamento adicional, é que os proprietários dizem ter conseguido, finalmente, "respirar". Mas o "mau ambiente e desconforto" persistem e há quem já tenha assistido a conflitos entre membros do próprio grupo.
Os clientes procuram manter-se afastados dos 20 elementos. As mulheres, mais receosas, tentam não responder às abordagens e os homens optam por respostas negativas firmes. "Não costumo ser muito simpático com eles", afirmou um cliente, que preferiu não se identificar.
Atualmente, o cruzamento da Rua da Galeria de Paris é o mais problemático. A incerteza quanto ao futuro é o que deixa mais receio aos empresários, temendo uma escalada da insegurança até situações de violência.
Cândido dos Reis com serviço adicional
Na Rua de Cândido dos Reis, os 18 proprietários de bares noturnos e restaurantes juntaram-se e pagam, todos os meses, um serviço extra da PSP. São entre seis e oito agentes que, aos fins de semana, complementam a vigilância da rua e evitam a aproximação do grupo
Pormenores
Vigilância
A instalação de câmaras de vigilância já esteve prevista para a zona da movida da Baixa do Porto. O sistema nunca avançou.
Situação sazonal
O grupo é mais evidente na altura do verão, quando o movimento de clientes é maior. O número de elementos evoluiu de forma gradual, reunindo agora cerca de 20 homens, dizem os proprietários dos estabelecimentos.
Louro prensado
De acordo com fonte da PSP, muitas vezes o grupo não vende droga, mas sim louro prensado com uma pequena percentagem de substâncias ilícitas.