Há uma unidade capaz de salvar vítimas de enfarte, acabada há três anos, no Hospital Senhora da Oliveira (HSOG), em Guimarães, fechada, à espera da autorização do Ministério da Saúde para funcionar.
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O presidente da Câmara de Guimarães e o diretor de Serviço de Cardiologia afirmam que a situação visa favorecer o "vizinho" Hospital de Braga, mas a ministra da Saúde defende a concentração dos serviços.
O assunto já foi levado à Assembleia da República e já foi votada uma moção na Assembleia Municipal, solicitando à ministra a abertura do equipamento. Voltou agora à ordem do dia, depois de o presidente da Câmara, Domingos Bragança, ter recuperado anteontem o assunto. "Não é o Hospital de Braga que manda no Ministério da Saúde", atirou na reunião de Câmara.
Domingos Bragança considera que o problema não reside na ministra da Saúde. "já me disse que isto é insustentável", revela. Mas esta afirmação do autarca não tem eco nas palavras de Marta Temido, ontem no Parlamento. Para a ministra, uma das formas "de desestruturar o SNS é fazer uma construção, uma oferta, que depois não temos condições de utilizar da forma mais eficiente porque os recursos humanos são o bem mais escasso e nós não os podemos ter em todo o lado". Para Marta Temido, "a concentração é qualidade".
com rodas ia para BraGa
António Lourenço, diretor do Serviço de Cardiologia do HSOG, defende que o equipamento não está a funcionar "por falta de vontade política" e afirma que tem dois médicos no serviço com formação para usar o equipamento que serviria os cerca de 1200 utentes de Guimarães que são tratados fora do concelho. O clínico reconhece que o Hospital de Guimarães "pode não ter pedido as autorizações", mas lembra que se trata de salvar vidas, porque nestes casos o prognóstico está muito relacionado com o tempo em que os médicos conseguem atuar, "quanto mais tempo passa no enfarte sem revascularização coronária, mais doentes morrem".
caso de morte
Este tipo de fatalidade já aconteceu, como descreve o diretor do serviço. "Íamos a caminho de Braga, na autoestrada e o doente entrou em paragem, tentamos reanimá-lo, às quatro da manhã. Chegamos à portagem e ele estava morto", relata.
António Lourenço assegura que "há uma vontade de abrir uma segunda sala de hemodinâmica em Braga" e que isso está a condicionar Guimarães. "Se a nossa sala tivesse rodas já a tinham levado para Braga", ironiza.
Braga desmente
A Administração do Hospital de Braga desmente "que exista intenção de abrir uma segunda sala de hemodinâmica" e, relativamente às declarações de Domingos Bragança, afirma que "não tem qualquer poder de decisão no que diz respeito a outros hospitais".
A sala de hemodinâmica do HSOG ficou concluída em 2018. Os fundos foram conseguidos através de um peditório da Liga dos Amigos do Hospital (1,5 milhões) e o restante através de acordos com fornecedores de equipamento. O Ministério da Saúde pôs em causa a legalidade dos acordos e essa terá sido uma das razões para protelar a abertura da unidade.