<p>Em Vieira do Minho, estão a ser dados os primeiros passos para trazer a questão dos maus tratos a idosos para a praça pública com a criação, há poucas semanas, do centro de atendimento a idosos vítimas de maus-tratos.</p>
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Coimbra e Ovar vão, também, ter estruturas deste tipo, apoiadas por uma equipa de psicólogos. Segundo o responsável pelo centro de Vieira do Minho, Tito Peixoto, três idosos estão já a receber apoio. "É um primeiro passo para começarmos a conhecer e a perceber quem são estas vítimas e quem são os agressores".
Este é um fenómeno "assustador que infelizmente, vai sendo tolerado pelas pessoas e agentes no terreno". O psicólogo dá vários exemplos de "maus tratos gerais" feitos aos mais velhos: "eu tenho duas pastas completas com pedidos de pessoas para virem para a Misericórdia e não há respostas sociais, não há lares. Há é um abandono total por parte dos políticos".
A primeira utente do centro de atendimento foi sinalizada por uma vizinha. Tem 90 anos, mora numa freguesia próxima do centro de Vieira do Minho. Não sabe ler nem escrever. "Toma conta dos, alegadamente, netos toxicodependentes. Roubam-lhe a reforma e batem-lhe. A senhora tem medo de ir para casa". Gente desprotegida que precisa de alguém que os ajude "até porque estão emocionalmente debilitados".
As questões de dinheiro, de partilhas e de heranças, os problemas demenciais e físicos são os motivos principais para os maus tratos. "Há um senhor que vai ao notário para tratar dos seus bens. Não sabe ler nem escrever e confia no notário que não se portou bem. Foi a sua sentença de morte porque é todos os dias ameaçado pelos familiares". Por isso, para Tito Peixoto "é importante que a metodologia adoptada dê respostas a quem procuro o centro, prestando apoio psicológico para que as pessoas se sintam bem e mantendo o anonimato".
Um dos papéis fundamentais vai ser atribuído às equipas de apoio domiciliário: "poderão ser a primeira linha na detecção e sinalização de casos". Para o psicólogo, os idosos, ainda encaram os maus tratos com "vergonha" e é preciso, por isso, "despertar as vítimas porque esta realidade deveria ser uma vergonha social para todos nós e não para as vítimas".
A não existência de um plano nacional (ver caixa) ajuda "à impunidade que se vive em Portugal onde vemos das mais variadas formas e feitios, maus-tratos generalizados a idosos".
Num concelho com 15 mil habitantes e onde cerca de 10 mil têm mais de sessenta anos, a Santa Casa de Misericórdia de Vieira do Minho optou por divulgar o centro de atendimento através das paróquias e das comissões inter-freguesias.
No entanto, este é um espaço aberto a idosos de todo o país que podem usar o telefone para conversar com os psicólogos: "já estamos a acompanhar um senhor do Algarve", revela Tito Peixoto.