Ruas com lugares pagos vazias, ruas com lugares grátis a abarrotar. Município garante que medida promove "mobilidade e rotatividade".
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"Às vezes dou 15 ou 30 cêntimos ao cliente para pagar o estacionamento e conseguir vir ao restaurante". O relato é feito por José Rodrigues, comerciante na Rua Ângela Adelaide Calheiros Carvalho Menezes, uma das artérias no centro da Maia onde há mais de um mês se paga para estacionar. Os cerca de 350 novos lugares com parcómetros mudaram o cenário do estacionamento na zona e instalaram o descontentamento entre moradores e lojistas. Indignados, chegaram a tapar as ranhuras dos parcómetros com cola quente para impedir o pagamento.
Nas ruas onde antes não faltavam carros parados, agora há lugares de sobra. Os condutores fogem aos parcómetros e privilegiam as artérias à volta, ocupando os espaços durante várias horas. Há ainda quem prefira correr o risco e deixe o carro em segunda fila.
"A procura [no restaurante] baixou um bocadinho. Há sempre alguém que deixa de vir ou porque não quer pagar ou porque tem de deixar o carro longe", lamentou José Rodrigues, que defende a criação de descontos no estacionamento para os comerciantes.
"Os moradores têm dístico e nós [lojistas] não temos direito a nada. São oito euros por um dia inteiro de estacionamento", criticou o homem de 39 anos que recusa pagar parcómetro por considerar que a medida "não tem lógica".
Garantindo que o alargamento das zonas tarifadas serve para "promover a mobilidade e a rotatividade", Nélson Ferraz, diretor geral da Empresa Metropolitana do Estacionamento da Maia, recusa a ideia de que os negócios tenham sido afetados com a introdução dos novos parcómetros.
"Tivemos bastante gente que solicitou a nossa presença porque as pessoas, que nomeadamente iam para o metro, estacionavam todo o dia nos arredores. Foi isso que nos levou a estender a zona [de estacionamento pago]", explicou Nélson Ferraz, salientando que "a fiscalização não é intensiva".
"Mealheiro"
Na confeitaria onde Isaura Silva trabalha, na Rua Adélia Ferreira dos Santos, o problema é outro. Sem parcómetros, a partir das 9 horas torna-se "impossível estacionar". "As pessoas metem aqui os carros de manhã cedo e vão trabalhar. Automaticamente, os nossos clientes não têm onde parar. Tem sido muito mau", afirmou.
O estacionamento no centro da cidade, garante Isaura Silva, "está mais desorganizado". Há "carros em segunda fila", dificultando as manobras aos outros condutores, e parados "em cima da relva" ou dos passeios. "Os clientes queixam-se. Alguns, que conviviam connosco há 18 anos, deixaram de vir. Quando os encontramos na rua, dizem-nos que é impossível estacionar", revelou.
A viver há 24 anos na Maia, Pedro Gonçalves considera "um absurdo" o alargamento das zonas tarifadas. "Está tudo indignado. Cada vez são mais limitativos os espaços para estacionar", disse.
"Isto aqui é um mealheiro", comentou Joaquim Barros, referindo-se às multas. "A paisagem alterou-se. Deixamos de ter carros durante o dia. Se houvesse serviços públicos nesta zona justificava-se o pagamento dos parcómetros para libertar os espaços. Desta forma, não se justifica", sustentou.