Meninos e meninas do programa Desporto no Bairro ficam admirados quando descobrem que água do mar é salgada.
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Quando a Câmara do Porto colocou este ano o surf no programa de verão Desporto no Bairro, estava longe de imaginar que muitas das crianças de famílias suas inquilinas nunca tinham visto o mar e que ficam admiradas com a imensidão do oceano e do facto de a água ser salgada. Apesar de o Porto ser uma cidade fluvial e marítima, o entusiasmo é tão grande, que são os próprios pais a levarem os filhos a praticar uma modalidade que consideravam elitista e "só para os ricos".
"Assim que se aproxima a hora de vir treinar, ela fica em pulgas. Foi o melhor que lhe podia acontecer nas férias", diz Ricardo Ribeiro, pai de Francisca, de cinco anos, que já se equilibra facilmente na prancha de surf. A aula decorre no cimentado ringue do Bairro da Fonte da Moura, onde não há água mas onde os movimentos das ondas são simuladas numa prancha sobre boia de borracha.
Até ao final do mês, de segunda a sábado, mais duas modalidades se juntaram ao "breaking", que no ano passado, segundo a vereadora da Juventude e Desporto, Catarina Araújo, "foi um sucesso". Para além do surf também o skate atrai as atenções das crianças e jovens de 14 bairros em aulas dadas por 20 professores.
"Isto é muito gratificante, porque se trata de crianças de um meio desfavorecido e que nunca pensaram praticar surf, mas que aderem de forma espontânea e já tivemos momentos emocionantes de meninos e meninas que chegam ao mar e ficam espantados pelo facto da água ser salgada. Esse dia para eles foi uma descoberta", diz o instrutor Pedro Flores.
No insuflável montado no centro do recinto, "Micha" destaca-se nos movimentos, embora em 12 anos nunca tenha praticado surf. Mihaylo Samalyuk, filho de imigrantes ucranianos, é um dos que já têm capacidade de fazer a estreia no mar, na praia Internacional, junto ao Edifício Transparente. "Só são levados para a praia quando já se encontram à vontade e estão reunidas todas as condições de segurança", acrescenta o instrutor.
Maria Francisca mostra mais dificuldades e, passado alguns minutos no insuflável, abandona a prancha para ir para a zona onde decorrem as aulas de skate dada pelo instrutor Nuno Pinto.
"De início, gostava mais do surf, mas agora prefiro o skate, porque na prancha não se sai do sítio", confessa. Estas aulas são prestadas por elementos das escolas Flower Power Surf School, Surf Training School e Kate Skateschool.
SABER MAIS
600 inscritos
Na edição do ano passado do Desporto no Bairro, a autarquia esperava a adesão de 200 crianças e jovens, mas o número de inscritos chegou aos 600. A única modalidade foi o breaking, em aulas coordenadas por Max Oliveira, pioneiro de Momentum Crew e Funky Soul Man.
Em mais bairros
Este ano, além dos bairros da Pasteleira, Pinheiro Torres, Ramalde, Campinas, Aldoar, Fonte da Moura, Viso, Cerco e Lagarteiro, o Desporto no Bairro vai ser alargado a Francos, Contumil, Pio XII, S. Tomé, Carriçal e Agra do Amial, num total de 14 divididos por seis polos principais.
Espetáculo no final
O Desporto no Bairro é promovido pela empresa municipal Ágora, cuja secção de desporto usufrui agora de um espaço reabilitado na Casa de Chá do Parque da Pasteleira. O investimento deste ano é de 100 mil euros e o programa, tal como aconteceu em 2020, terminará com um espetáculo aberto ao público.