O que resta da Companhia, falida há mais de 20 anos, está a ser demolido junto à Circunvalação, no Porto, para dar lugar a projeto imobiliário privado.
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A maior unidade industrial que o Porto alguma vez teve está a ser definitivamente demolida para dar lugar a um projeto imobiliário e de requalificação. Após décadas de abandono no lugar onde funcionou mais de 50 anos a Companhia Portuguesa do Cobre, junto à Estrada da Circunvalação, em Campanhã, vai nascer habitação, comércio, novos arruamentos e zonas verdes.
O espaço chegou a pertencer à Sonae, que ali queria construir um hipermercado, mas com o aparecimento do Parque Nascente o projeto foi abandonado. Agora, é a empresa Feudurbano - Promoção Imobiliária, Lda a promotora do empreendimento, que terá seis lotes para habitação, num total de 229 fogos, e quatro para comércio e serviços. Em edifícios com sete pisos acima do solo e três subterrâneos. "O importante é que fique bonito. Estava tudo cheio de lixo e servia de abrigo à marginalidade", diz Maria Júlia Pimentel, que reside junto ao local, lembrando-se bem dos tempos áureos da Companhia Portuguesa do Cobre.
"Trabalhavam aqui famílias inteiras e a fábrica nunca parava, funcionava 24 horas por dia", recorda. Olívia Cardoso, que era cobradora de uma empresa com sede na Rua da Fábrica e que se deslocava frequentemente à unidade, confirma: "Era um mundo! E a estrada estava sempre cheia de gente". A Companhia chegou a ter 760 trabalhadores, tinha instalações sociais e balneários. Como conta o historiador e arqueólogo Hernâni Lamego, num artigo que escreveu em 2015 para a revista "Convergência Crítica", muitos dos funcionários tinham ali melhores condições sanitárias do que em casa. Instalada junto à estação da CP de Contumil, à fábrica chegavam trabalhadores de outras zonas do Porto, de Gondomar, Paredes, Penafiel, do Marco de Canaveses e da Régua.
criada em 1947
No espaço onde funcionou a gigante fábrica, máquinas de terraplenagem juntam o entulho, o que resta, pois muito do espólio tinha sido já pilhado, muita pedra retirada para outras construções e a maquinaria vendida. "As antigas secretárias que lá trabalhavam eram minhas vizinhas aqui de Rio Tinto. A maior parte já morreu", acrescenta Deolinda Pontes.
Nenhuma das três mulheres lá trabalhou. Nem António Moreira, que assiste aos trabalhos de limpeza do terreno. "Não calhou! Muitos dos meus amigos trabalharam lá. Era a única fábrica do género em Portugal", explica. A Companhia Portuguesa do Cobre começou a trabalhar no "lugar das Gueifas", como era conhecido, em 1947, no sentido de reforçar o plano nacional de eletrificação que se encontrava em curso.
Na Circunvalação fazia a fundição, o corte e a extrusão (transformação em fio). O auge da produção e exportação de matéria foi atingido nas décadas de 50 e 60 do século passado, com a sucessiva construção de novas unidades. Após o 25 de Abril, ainda foi construído o refeitório, mas as dificuldades começam a surgir logo depois e acentuam-se na década de 80. "Quando fechou, muita gente ficou em dificuldade. Uns reformaram-se e outros procuraram outros empregos", diz Maria Júlia.
A insolvência foi decretada em 1998. Em 2016, 257 trabalhadores reclamavam indemnizações e salários em atraso.
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Junto à estrada
Terreno da antiga fábrica situa-se entre a linha de comboio (linhas do Minho e Douro) e a Estrada da Circunvalação. A principal fachada da Companhia Portuguesa do Cobre localizava-se já na Rua das Linhas de Torres.
Obras em Campanhã
Campanhã é das freguesias do Porto em maior expansão e para onde estão destinados alguns dos principais projetos estruturantes, como o do Matadouro da Corujeira e o Terminal Intermodal de Campanhã.
Novo PDM
Revisão do PDM vai favorecer construção de nova habitação no eixo Paranhos/Campanhã.