Do Grande Sanatório, o primeiro a entrar em funcionamento nas antigas Portas do Guardão, hoje conhecidas como Caramulo, no concelho de Tondela, pouco resta. O edifício que, durante anos, acolheu milhares de doentes com tuberculose foi demolido há cerca de um ano. Ficou a fachada e um monte de entulho.
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O edifício esteve ao abandono nos últimos anos. Para ele, a Sociedade do Caramulo, dona do que restou do imóvel, já tem planos. Pretende ver nascer ali um novo projeto turístico, para alavancar ainda mais a terra que Jerónimo Lacerda, fundador da empresa e dos sanatórios, ajudou a tornar célebre em Portugal e lá fora.
"Foi feita uma demolição, restou a fachada, por motivos estratégicos, para depois ser alvo de uma reabilitação para um futuro projeto", explica João Lacerda, neto do fundador e membro da direção da Sociedade do Caramulo. Acrescenta que a ideia ainda está a ser debatida com alguns parceiros. "Acreditamos que aquele espaço só pode ser uma futura unidade hoteleira", só tem cabimento nesse âmbito, defende. O Grande Sanatório era o maior dos espaços destinados às curas da chamada peste branca. Abriu em junho de 1922 e encerrou na década de 80. Tal como ao sanatório o mesmo aconteceu às 18 áreas do género existentes no Caramulo.
muitos estão em ruínas
O Sanatório de Montanha foi demolido. O Salazar é hoje um hotel de quatro estrelas. Quatro antigos imóveis foram reconvertidos em estruturas residenciais para idosos, em que se manteve o nome anterior, como são os casos dos lares Boa Esperança, Monteiro de Carvalho, Pedras Soltas e Sameiro. Os Sanatórios Lusitano e Serra são hoje casas de habitação. O edifício Casa da Serra é da Opus Dei.
Em ruínas, e em avançado estado de degradação, encontram-se os sanatórios Palma, Santa Maria, Central e Bela Vista. Este último vai ser derrubado. Foi comprado por investidores para a construção de um aparthotel.
Ao abandono encontra-se ainda o antigo Sanatório Infantil, um edifício imponente, que está tomado por silvas e vegetação. O imóvel foi comprado pela Câmara de Tondela, que nele quer criar, em parceria com o Museu do Caramulo, um espaço museológico dedicado ao brinquedo.
"O futuro museu faz parte do projeto que temos com a Autarquia para transformar o Caramulo numa vila museu. O Museu do Brinquedo ficaria enquadrado no polo museológico do Museu do Caramulo e iria ser mais um eixo turístico e de atração para colocar o Caramulo cada vez mais no topo de cadeia turística nacional e internacional", afirma João Lacerda.
A vila caramulana tem nesta altura três museus, um dedicado à arte, outro aos automóveis e o recém-inaugurado Caramulo Experience Center, também na vertente dos motores. Em construção encontra-se o Museu da Estância Sanatorial do Caramulo e Centro Interpretativo, num investimento de 400 mil euros.
O projeto, da Junta de Freguesia do Guardão, pretende dar a conhecer ao público de forma interativa como era o Caramulo, os sanatórios e o tratamento da tuberculose. O espaço deverá abrir portas no primeiro trimestre de 2023.
O Sanatório de Valongo, em Gondomar, propriedade da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal, encontra-se devoluto. O Sanatório Sousa Martins, na Guarda, o primeiro a ser construído de raiz no país, foi reconvertido em hospital, mas ainda hoje tem edifícios abandonados. O Sanatório de Portalegre alberga um laboratório de saúde pública e a unidade do Instituto da Droga e Toxicodependência. O hospital da cidade quer transformar o edifício num empreendimento turístico.
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camas era a oferta do Caramulo no período áureo da estância sanatorial, que abriu portas há 100 anos. O primeiro hóspede entrou em 1922 e o último registo data de 1963.
Cura da tuberculose
João Lacerda diz que "o Caramulo curou muita gente" da tuberculose. "Graças a Deus, muitas salvaram-se e têm familiares para contar a história", observa.