Câmara reuniu em relatório as preocupações e sugestões de clientes, comerciantes e agentes do setor.
Corpo do artigo
Fechar hipermercados aos domingos, criar bolsas com rendas acessíveis e apoiar lojas históricas são algumas das sugestões para preservar o comércio tradicional em Lisboa, onde os estabelecimentos acusam a pressão turística. As ideias foram apontadas à Câmara pela população, comerciantes e agentes do setor, ao longo do ano passado, dando origem ao relatório sobre "Economia de Proximidade".
De acordo com o documento, divulgado esta quarta-feira, quem compra no comércio tradicional tem a perceção de que este está em "desvantagem" face às grandes superfícies e sugere, entre outras coisas, o encerramento de grandes superfícies ao domingo, a criação de bairros digitais com identidade própria e campanhas de divulgação. Querem, ainda, a melhoria do espaço público e maior diversidade de lojas.
De uma das mesas redondas para recolher ideias que revitalizem a baixa saíram, por exemplo, propostas para dar subsídios a lojas históricas, a ocupação temporária de espaços devolutos por artistas, criadores e novos negócios e a criação de bolsas de espaços comerciais com rendas acessíveis para apoiar novos negócios.
Os principais problemas identificados pelos comerciantes passam, precisamente, pelo valor da renda e instabilidade contratual, à qual se somam preocupações com a higiene urbana e segurança (98% consideram importantes). Quem tem estabelecimentos de comércio e serviços na capital aponta desafios como as "mudanças demográficas e pressão turística, que alteram hábitos de consumo", a falta de regulação especifica, com excesso de licenciamento e pouca diversidade comercial, a falta de acessibilidade e de estacionamento e, ainda, a dificuldade em atrair sucessores para os negócios familiares.
No relatório pode ler-se que se verifica "uma grande incerteza face à cessação e à venda das empresas", pese embora a maioria não aponte um período temporal no qual tal possa suceder. "Sete por cento afirma que uma cessação poderá ocorrer no curto prazo, enquanto 11% acredita que o seu negócio poderá ser trespassado no mesmo período". Mas também há, e não são poucos, quem pretenda expandir. Cerca de 40% querem fazê-lo nos próximos cinco anos.
A Câmara diz ter identificado cinco áreas prioritárias de atuação, que passam pela requalificação do espaço público e promoção de zonas comerciais agradáveis e seguras, apoio à digitalização e modernização dos pequenos negócios, incentivos para valorização do comércio histórico e tradicional, planeamento para promover a diversidade de lojas e uma maior articulação entre Câmara, comerciantes e associações.
Pormenores
Processo de auscultação
As opiniões foram recolhidas em mesas redondas com especialistas e organizações, um questionário "online" (com 2084 respostas válidas) e sessões presenciais com consumidores e comerciantes.
Microempresas de raiz
As microempresas lideram (55% dos estabelecimentos empregam menos de cinco pessoas) e a maioria dos negócios foram criados de raiz (66%). Os comerciantes são sobretudo homens (58%), sendo o intervalo de idade mais frequente entre os 45 e 54 anos (36%).
Residentes consomem
Os consumidores que participaram são na sua maioria (1464 pessoas, equivalente a 78% do total) residentes em Lisboa, sobretudo nas freguesias de Alvalade, Lumiar, Arroios e Penha de França. Os restantes trabalham, estudam ou fazem compras na cidade.